domingo, 30 de junho de 2013
Poeta e Poesia
Menino, eu não morro, nunca
Se tu vens ao meu encontro e me conta,
Sobre os dias teus
Esta ternura com que me olhas
Esta candura com que me falas
Diz-me, meu anjo, sobre esta imagem:
Serás tu, verdadeiramente, ao lado meu?
Ou serei eu, que de tanto pedir à Deus
Mais poesia sobre a face terra,
Vejo-te, ou começo enxergar miragem?
E todo o meu amor à tua beleza encerra.
Menino, eu te amo, amo
Quando chegas assim
No começo do dia, BOM DIA, VIDA!!
Beijas à minha mão, e eu te abençoo
De alma e coração
Dá-me o teu sorriso, e eu estendo-me
Em teus braços infantis, te escrevo
E em meio às tuas estripolias,
Meu coisa mais linda, a minha juventude vive
No reino eterno da poesia
Deixo correr nossa vidas, minha vida..!!
(Adelaide N.)
dou-me à música...
Toco-me...
... em troca,
deixo que o acorde
de um violão solto,
me acorde...
troco-me...
... dou-me à música,
como amantes
se dão ao amor.
Mantenho o silencio
do enquanto dormia.
Nada a declarar...
só peço a melodia,
que se faça eterna...
... que nunca se
faça parar...
Não me indague
de nada...
... nem me prenda
a qualquer sorriso
banal.
Não me toque agora...
... meu ser por hora,
faz-se magia,
na harmonia
que desfila feito
encantada brisa,
por todas as cordas,
que produzem som...
josemir(aolongo...)
FIINDA DE AMOR À PAAY CHARINHO
Eu, senhor, d’amor coitado
por voss’alma fremosia
foi de tan enamorado
qu’eu chorand’assi dizia:
Suidade, suidade minha,
quando, quando vos veria?
Procurei-te pelos montes
pelas grutas santuários...
(dedos aflitos nas contas
profanas de meus rosários)
Ai, Deus! as águas das fontes
como as ninfas flutuantes
choravam nos estuários...
Quem viss’assi com’eu vi
com tal coita e tan velia,
ness’amor que padeci
de mi (n) tormenta diria:
Alma gêmea de mi (n)’alma,
quando, quando vos teria?
Mays estaveis na cidade
que dos campos não se via
no asfalto da puberdade
dos anjos da mais-valia...
Ai, Amanda de Saudade,
minha vasta claridade
aos poucos se apagaria...
Fremosura d’alvorada
mui louçana senhor mia
e tan muit’enamorada
que, partind’assi dizia:
Barqueiro do meu destino,
quando, quando vos veria?
Não enquanto morra tanta
a esperança conselheira
dos enforcados na ponta
do pau-brasil da bandeira...
Ai, cruzado em terra santa
o Amadis não se alevanta
de chorar a companheira!
Senhor mia, fin rosetta,
non me metta em romaria,
tanto amor em Leonoreta
de suidad’eu morreria...
Que baixinho perguntava:
quando, quando vos veria?
O remate da cantiga
foi à fonte e logo vem,
que cantiga sem remate
já nenhuma graça tem...
Dess’amor de mim senhor,
tendes voss’essa meestria...
Mas a vós, senhor, d’amor!
quando, quand’eu vos teria?
A. Estebanez
E até hoje, são tantas as lembranças...
E foram várias as canções.
Despedaçados, nossos corações,
refizeram-se.
E foram tantos os tragos,
que embebidos, nos fizemos sem alaridos,
homem e mulher, vorazes amantes.
E foram tantas as conversas...
... eu te vi às avessas,
e como de costume viajei pelas transversas
ruas do teu íntimo...
... doei-me, como se doam os aflitos.
E até de alegria choramos.
Lágrimas bailadeiras em nossas faces,
davam-nos o tom e a cor do quanto nos amamos.
Riscos...
... malemolentes e ariscos,
descobrimo-nos.
sem aspas ou asteriscos,
inserimo-nos...
Seria uma história qualquer,
se não houvessem os fatos.
Se não nos marcassem as carícias.
Se não eclodisse o ato,
que nos remeteu às delícias,
do voar livre pelo espaço
somente nosso...
nem das estrelas, nem dos astros,
O dia amanheceu com sua ausência.
O quarto se inflamou, com tua essência,
e tamanha era a abrangência
do que ali se desenrolou,
que a casa inteira, se fez ninho de amor.
E até hoje, são tantas as lembranças,
que mesmo após tantas andanças,
desditas, e nervosas injúrias,
aquela suave e mágica fúria,
totalmente plena, ainda mora em nós...
feito apertados e eternos nós...
josemir(aolongo...)
BOA NOITE MEU AMOR...
Boa noite, meu amor!
O mar acalma na brisa
essa é a hora de voltar...
A brisa acalmar o vento
os sonhos o pensamento
que não cessa de gritar
nessa noite numerosa
entre as ondas sinuosas
dos caminhos do luar...
Boa noite, meu amor!
Sem os muros dos rochedos
sem nenhum setembro negro
sem mistérios nem segredos
sem os medos de voltar...
Boa noite, meu amor!
É destino o amanhecer
para a noite descansar...
Bom sonhar enquanto é tempo
bom de morrer ao relento
bom de renascer no mar...
A. Estebanez
O GRANDE COMANDANTE
O grande comante é aquele
Que combate o bom combate
Que transforma inimigo em amigo
Que não deixa pela metade
O grande comandante é aquele
Que vê todas as possibilidades
Que vê todas as potencialidades
Que desenvolve a sua comunidade
Semeando a prosperidade
O Grande comandante é aquele
Que acaba com a guerra
Que semeia a paz
Quando é tempo possível
Quando é tempo de paz
Todo tempo é possível
Todo tempo é de paz
Pois só tem paz
Quem faz a paz
O grande comante é a paz
Edilberto José Soares
Rio, 2007
??? O SOL DA LIBERDADE ???
Raiou o sol da liberdade
No novo horizonte do Brasil
O povo viu À Verdade
Da mentira do brasil
O gado manso cordeiro
Acordou do cativeiro
De mais de quinhentos anos da nação
Agora todos estão nas ruas
Gritando Libertação
Os prostitutos da Lei
Os assassinos da Nação
Perderam as corôas de rei
Os reis da hipocrisias
Os assassinos da Poesia
Já mudaram suas falas
Cuidado Nação não calas
Eles estão de embromação
São os assassinos dos Brasileiros
Os lobos em peles de cordeiros
Tentando de novo enganar o Povo Brasileiro.
Edilberto José Soares
Rio de Janeiro, 26.06.2013
De Mara Paulina Arruda
Verônica uma garçonete em uma cidade fronteiriça assistia o
jornal na TV enquanto recolhia os pratos nas mesas. Reclamava dos clientes que
deixavam os pratos com restos, e outros que mal tinham tocado na comida, sem
falar nas marcas de batom nos copos e dos ossos espalhados nas toalhas de mesa.
Peloamordedeus será que esses clientes não viam que havia um pratinho próprio
para essa finalidade: Verônica fazia essa análise dos fregueses que passavam
pelo restaurante que ficava numa rodovia. Era todo dia a mesma coisa. Gente
desleixada!
Ao parar para ver a notícia deu de cara com uma jornalista
entrevistando a sua mãe. A mãe segurava um cartaz com o seu retrato que
mostrava que ela fazia parte da porcentagem das pessoas desaparecidas no país.
O passado bateu na porta. Nossa como ela envelheceu! Verônica estava perplexa
com a coragem da mãe.
Passados trinta anos da sua partida estava agora vendo o
rosto da mãe que pediu para ela não fosse embora com aquele sujeito com cara de
muro salpicado. Mas por que será que aquela jornalista veio justamente
entrevistar a mãe dela? Só podia ser intencional, não era possível!
Juntou os pratos e saiu segurando o choro que, na cozinha,
desandou.
Buscou o telefone e com um alô mãe reatou a vida perdida em
trinta invernos.
D4
Parece uma flor ao vento
enquanto chama mansa
cheiro teu começo
e minha língua busca
o polen de mulher feita
dedos abrindo o vão
seguro pelo cabelo
tudo de uma vez
terra molhada
bato com força
querendo raiz
entre um
entre outro
por infinito
não era dor ouvida
uma suplica em estreitos
múltipla chuva interior
Redson Vitorino
Ao vê-la ali na sala se deu conta que nunca fora um homem
romântico nos gestos, menos ainda com as palavras. Saiu discretamente, andou
algumas quadras, encontrou uma floricultura. Comprou uma rosa vermelha. Entrou
em casa timidamente. Aproximou-se da esposa de longos anos, balbuciando sua
confissão: “Eu te amo” Colocou a flor entre as mãos a amada e chorou sobre o
caixão.
JDamasio
De Mara Paulina Arruda
Chacoalhavam as bandeirinhas no varal.
Uma música ressoava...no rádio de uma casa no alto da
serra.Ao lado da casa um limoeiro carregado de frutos. Crianças brincavam,
cirandas. Uma mulher carregava uma sacola nas costas. Subia a ladeira cheia de
planos, cantando... Inventava versos, cantigas. Camadas de roupa sobre o corpo.
Frio.
“ Aonde foi parar o meu rosarinho?
Ele caiu caiu
Fez um barulhinho
Eu vi
E ouvi o passarinho
Que cantou cantou
Um hino ao louvor á Santo Antoninho”
Trazia na sacola cartas de amor.
A mulher, cancioneira do vento, quis perguntar do seu nome
mas entendi que isso era o de menos, sua pessoa era o demais.
NAQUELA NOITE
Naquela noite eu não fiz nada que não confirmasse plenamente
minha opção de vida, meu sacerdócio. Não decepcionei meu fígado bebendo menos
do que ele esperava. Não fui pra casa e fiquei ouvindo alguma música vagabunda
em alguma rádio de Internet. Não pedi desculpas, nem admiti erros que não
cometi. Em vez disso, apenas andei sem rumo como costumo fazer quando as coisas
fogem do controle. Entrei em bares e bebi Domecq como não costumo fazer. Sempre
vou de whisky, mas naquela noite a porra do bar não tinha gelo. Então fui de
Domecq já que a merda do boteco também não tinha Jack Daniels. Vi uma mulher
fazendo um boquete num sujeito dentro de um carro e o cara não parecia feliz. E
quer saber? Não o culpei por isso. Tenho evitado apontar o dedo na cara de quem
quer que seja. Tenho pensado insistentemente que no segundo seguinte posso
estar sendo chutado com a cara no chão. Então que adianta bancar o fodão? Penso
que apenas devo fazer as coisas do meu jeito antes de atravessar a fronteira.
Dizem que é pra breve. Naquela noite, pessoas morreram em algum lugar. Outras
enlouqueceram. Algumas até pareciam felizes. Eu era só um cara andando sem rumo
e bebendo Domecq como não costumo fazer. Mas teve um momento que eu me
emocionei ouvindo no telefone uma amiga que contava chorando sobre o amigo que
ela tinha perdido. Definitivamente perdido. Algumas coisas são definitivas. Eu
estava bêbado demais pra acreditar que aquele era o lugar ideal, pra se estar,
naquele momento, naquela hora da madrugada. Mas não era uma noite perfeita. Eu
estava bebendo Domecq. Pensando bem, era uma noite bem esquisita aquela. Então
voltei pra casa. Minha filha estava dormindo. Ela parecia tranqüila. Abri as
janelas e respirei com dificuldade. O telefone tocou e eu deixei tocar. Deitei
na rede e dormi como fazem os caras que não traem seu estilo de vida, seu
sacerdócio. Foi uma noite filha da puta de desgraçada, mas ainda era eu que
estava ali balançando naquela rede. E ainda era eu quando finalmente adormeci.
Eu merecia um sonho bom. Naquela noite.
Mário Bortolotto
vácuo
em pétalas
desfaço-me
__avesso
sentindo o beijo do vento
vanilla inunda
o papel em branco
com sabor
de mil folhas
o desejo vacila
quebrado o vazio
__marcha perdida
no sopro do tempo
cláudia Gonçalves
Pela casa, eu transitava. Quantos vazios. No quarto da
filha, muitas lembranças. A essas, um ursinho de pelúcia, parte da infância da
qual ela se esquecera de levar. Olhei para o urso marrom: encardido,
empoeirado, olhos foscos a me fitarem em cima do armário. Parecendo pular, o
ursinho caiu em meus braços. Estava só (igual a mim). Deitamos no sofá. Antes
do impulso de abraçá-lo, ele me abraçou.
JDamasio
escrever sangue
Roberta Tostes Daniel
escrever sangue
percepção viva e precária de que as imagens nascem do
sangramento da palavra. escrever em recorrência, palavras como sangue,
inevitáveis e necessárias, como o sangue o é.
há quem diga vermelho do vermelho? que circula de novo
oxigênio para a células? que é festim o alimento que entranha a consciência?
enfadonho e que já tarda?
pois bem, o sangue traz o sangue. da natureza do fluxo,
chamá-lo, dispersando a cor pelo seu nome. revestindo, para avivar a forma.
imanente ao pensamento: formular por coágulos.
esquece tudo o que eu disse:
frases, juras, promessas.
foi! - era tudo sandice.
esquece meu endereço,
a data daquele ingresso
e todo gosto do meu beiço.
esquece, esquece, esquece.
relacionamento quando desanda
é um urso panda no deserto
cambaleia e se fode, por decerto.
então, sem perhaps e sem agravos
revelo a razão do meu protesto:
não! não foram só os 20 centavos.
(M.C.)
Dona imaginação, bateu em minha porta, atrevida, entrou sem
ser convidada, trouxe ainda várias personagens, alguns sapecas, outros
horrendos, raro são os belos, todos juntos não cabem em minha cabeça. Com lápis
tenho expulsado um a um no velho caderno de rascunho, sepultando-os numa
gaveta, aquietam-se por um tempo, para logo depois ressuscitarem e de forma
fantástica saírem pelas frestas e virem, ora me assombrar, ora me encantar nas
noites de insônia. JDamasio
sexta-feira, 28 de junho de 2013
lúdicos
A poesia é
impossível
o amor é mais
impossível
a vida, a morte loucamente
impossíveis
Só a estrela, só a
estrela
existe
- só existe o impossível.
[orides fontela, lúdicos]
impossível
o amor é mais
impossível
a vida, a morte loucamente
impossíveis
Só a estrela, só a
estrela
existe
- só existe o impossível.
[orides fontela, lúdicos]
CHAMA
Apaguei os archotes do erótico
a lança é já não túrgida
E sedução?
jogo de alforjes enferrujados
por lutos vencidos
e me desvencilhar
dessa fauna rica e corrosiva
que nos meus fluídos inspiram cuidados?
Não, talvez fique mesmo
como um corte em tudo o que corta
uma singela volta ao leito
que alimenta o orgasmo do ego
anulado pelo ânima
cilada que me salva
da seita celibatária
Alexandre Horner
SONETO BÉLICO
As armas, munições, armazenadas
são muitas vezes mais suficientes
para extinguir da Terra seus viventes,
e continuam sendo fabricadas.
Revólveres, canhões, fuzis, granadas,
torpedos, mísseis mis, bombas potentes,
festim, balas Dum Dum, cartuchos, pentes,
martelos, foices, paus, facões, enxadas.
Romanos, que eram bons de guerra e paz,
disseram: "Si vis pacem, para bellum.":
Parece que os modernos vão atrás.
Não quero exagerar no paralelo,
mas quando menos ronda a bota faz,
mais folga ostentará o pé de chinelo.
[Glauco Mattoso | Geléia de rococó]
SONETO DEMOCRÁTICO
Você pode enganar a toda gente
durante meses, anos, certo prazo.
Você pode enganar, num outro caso,
um grupo limitado, eternamente.
O que não se permite nem consente
é alguém manter no mais completo atraso,
cagando em cima, usando como vaso,
populações de todo um continente.
Países democráticos depuram,
ou pelo menos devem depurar
as falsas plataformas dos que juram.
Ostenta a tentação de inaugurar
a laia perdulária. Não perduram.
Será? Mas ninguém pode assegurar.
[Glauco Mattoso | Geléia de rococó]
a paixão é o motivo raro
que entendemos
para destruir
tudo e todos.
quem aprende a chorar por isso
ama
apesar de odiar profundamente
a si mesmo.
amor é o assunto delicado dos reis
que enfim desistiram de ser
reis
e se curvaram diante daquilo
que nenhum deus
saberia explicar.
por isso o mundo
envelhece e chora
como a nuvem faz
ao se render à chuva.
o mundo envelhece
e não desiste de se
apaixonar.
Alexandre França
terça-feira, 25 de junho de 2013
segunda-feira, 24 de junho de 2013
Quatro estações...
Um amanhecer.
Com ele novos versos, novas rimas.
Novas oportunidades sucumbidas...
justo aquelas que mergulham no reverso,
e trazem o acinzentar das brumas,
a desconfiança, os sismos, as cismas.
Uma viagem interrompida.
Um querer de paz, um colo.
Um sopro de refazimento de vida.
Um evitar de encontrar corações,
que trazem vontades primeiras.
Ânsia de afeto, apelo e apego.
Manhãs não se repetem.
Nem a sede, pode ser amainada depois.
O amar nem sempre aparece.
O afã de se dar, nem sempre acontece.
Existem dias e dias.
Assim como existem canções e melodias.
Nem tudo se faz igual,
à medida em que o tempo passa e leva-nos,
o que deixou de ser vivido, já era.
Por isso existem quatro estações,
e não somente a primavera.
josemir(aolongo...)
E ao fundo...
O estanque...
o parar meio que forçado.
O projeto mal acabado,
e ao fundo,
eu...
O arranque.
O correr desabalado.
O querer alvoraçado,
e ao fundo,
eu...
O tanque.
O vestuário molhado.
O ensaboar apressado.
e ao fundo,
eu...
O instante.
O que voa acepilhado.
O sentimento abrigado.
e ao fundo,
eu...
O semblante.
O sorriso iluminado.
O amar inacabado.
e ao fundo,
nós...
josemir(aolongo...)
No teu corpo, o dançar solto...
E quem alimentará
meu coração desagregado?
Qual será
meu abrigo,
se o dia antigo
ganhar forma e corpo
outra vez?
Não queira convencer-me
de abster-me...
omitir-me...
eu quero mais, muito mais...
quero libertar
entre as linhas, que traço,
o emaranhado de nódoas,
que açambarca o meu espaço,
e oculta o dançar solto
do teu corpo...
josemir(aolongo...)
Divã...
Nada se faz absoluto...
Nada transgride
A lei do possível.
O que no hoje,
Se faz permissível,
Pode tornar-se
Intangível e inacessível,
No amanhã...
E aí,
Ei-nos deitados num divã...
josemir(aolongo...)
Inverno
Roberta Tostes Daniel
Caíram as folhas,
homens acorrem
para semear o presente.
Mantilhas desfraldam a terra
e os passos aprendem,
com as mãos ensanguentadas,
com a cabeça perfurada de dúvidas,
o que ninguém sabe, nem mesmo o frio.
saudades boas...
A velha estação...
estrada de ferro.
Lembranças
das opções tantas.
O olhar fixo
na musa,
que agarrada
à menina dos meus
olhos,
me sorria.
Final do dia...
noite e lua.
Carrego saudade suas,
principalmente da época
em que voce não era tão vazia...
josemir(aolongo...)
O que o amor exigir de mim...
O que mais grita
dentro desse coração,
que de amar urge e arde,
é a vontade
de sem alarde
atravessar toda a cidade
e postar-me diante
do que o amor exigir
de mim..
josemir(aolongo...)
quando enfim curso a mão da ira
vou deixar que este mar siga
o que a nuvem singra
o que a espada vinga
o que o vento castiga
o que a palavra devasta
Assis Freitas
Se nada detém
o que se faz fantasia,
pra que atirar-se
às mãos de um turvo dia,
se é o sol que ilumina
os sonhos?
josemir(aolongo...)
Revisitação..
Revisitando-me,
à procura de novidades
embuçadas,
passeei pelas entranhas
cada vez mais estranhas
do meu eu,
e a cada passo constatei
saber-me menos.
Os traços
que deliberei fossem meus
limites,
são apenas esquálidas marcas,
que retratam apenas
um naco, um rasgo,
do que em mim existe.
Revisitando-me,
feito romaria consagrada,
pude observar-me
de forma clarejada,
ser nada mais
que uma vaga intenção
do que me apraz...
Pra consolar-me,
dei de ombros.
Defini ter visto
apenas escombros,
e como sempre faço,
de cada passo,
desdenhei..
josemir(aolongo...)
Como tantos...
Danço...
enquanto giro,
suspiros me abarcam.
Não me alcanço.
Mas com firmeza me insiro
nesse trepidar suave...
e feito ave,
sinto que do solo se espargem
um, dois, vários corpos.
A sutileza de estar e ser
habilita-me a crer
que não estou sonhando.
E, por isso,
continuo dançando.
Eu quero um dia,
desgarrar-me do solo,
como tantos...
josemir(aolongo...)
Assim como os olhos...
A fonte...
o jorrar
do que assimila,
e dá vida...
energia colorida.
Enquanto as
roupas dançam
pelos varais,
entre os ais,
muitos panos
e planos caídos.
Entre nós,
suspiros doloridos.
A fonte
continua a jorrar
e dar cristalinidade,
à vida.
O tempo corre.
O verbo constrói-se.
Os caminhos
abrem-se e fecham-se.
Assim,
como os olhos...
josemir(aolongo...)
O degarrar-se é assim mesmo...
O entregar-se...
em meio à bruma, dissipo-me.
O arbitrar-me ser humano
faz-se quase impossível...
O esvair-se...
de forma clara, dispo-me.
Fujo do que se faz insano,
torno-me tangível...
Torno-me visível
para os que realmente veem.
Por vezes, a vida nos leva,
a esse grau de penúria.
A gente se sente relegado
a uma vivência espúria,
mas após o todo ser dissipado,
a gente se acostuma...
Expiações.
Provas.
Semi-prisões.
Covas.
O desgarrar-se é assim mesmo.
É como se uma estrela saísse
da trajetória
e se conduzisse sem destino, a esmo...
josemir(aolongo...)
seguir da sina...
À espera do próximo ato,
insere-se no salpicar das vontades soltas,
que impingem aos fatos
um motivo notoriamente de atremar
pensamentos e desejos voantes.
Invade-lhe a poesia cantada,
e que lhe absterge o absconso,
tendência abrumada, árida,
e libera ávida,
a consciência de atriz.
No camarim, onde as vestes
fazem-se instantes consumados,
os pensares apaixonados
por instantes, fazem-se aquietados
e vagam-lhe a mente.
É a hora de ganhar o palco.
É hora de rumar para o concepto.
É hora de discernir os destinos, os casos,
e preparar-se pura,
para os sinceros e aconchegantes aplausos,
que far-se-ão lenientes...
Que servirão como abrigos, animação definida.
Na estrada, uma imensa guarida,
pra refazimento.
Cerrada a cortina,
o seguir da sina...
josemir(aolongo...)
A Puta
Marcia Barbieri
""Me calo. O silêncio assombroso do leite
derramando e espalhando a nata grossa. Camuflando a brasa. Engordurando a
madrugada. Embranquecendo a vista esburacando a mucosa nos desfazendo revirando
o intestino assoprando no seu ânus de merda. As duchas intestinais não resolvem
mais o problema, é tua alma que está contaminada."
Rubens Jardim
Pois é. Poesia também é
assim: não se ata
com barbante. E sai mesmo
é dos escuros buracos,
dos recessos menos sondáveis
do homem e de uma grande
estimação pelas palavras.
Tudo certo e tudo incerto
nesse mundo dos duplos.
Tirante o que vem
do Céu. E dos Infernos.
( trecho do livrinho Carta ao Homem do Sertão. Fiz em
homenagem ao centenário do São Guimarães Rosa)
Rubens Jardim
Como o senhor mesmo disse,
infelicidade é questão de prefixo.
Tudo é língua e linguagem
nesse universo de pessoas.
Até o caráter pode ser
só caroços e cascas.
Mas sob a pele das palavras
um novo dizer pode surgir
para acolher as coisas do mundo.
( trecho do livrinho Carta ao Homem do Sertão. Fiz em
homenagem ao centenário do São Guimarães Rosa)
Rubens Jardim
Mas ninguém não sabe
o que é o real absoluto,
esse destino dado,
inteiriço, feito Novallis surgindo
de dentro e de fora da língua.
Da outra língua.
Mas na linguagem.
E olhe: o senhor mexeu
com as raízes
da minha língua
da minha pátria
e de mim mesmo.
(trecho do livrinho Carta ao Homem do Sertão. Fiz em
homenagem ao centenário do São Guimarães Rosa).
trouxe o deserto
["trouxe o deserto
entristeço
do abismo
não sobro
hachuras de uma vida torcida
pingam
sobre o varal"
Julia Bicalho Mendes
fonte : escamandro .Ade Scndlr
-Vem cá na janela!
--Fala vozinha..
--Vem rápido, Bruninho! Estou vendo um elefante branco.
-- Aonde, aonde vó?
--Lá em cima, no céu!
--...
--Ele esta andando , que maravilha! Esta se transformando em
uma girafa branca, agora num...
--Verdade! Agora estou vendo, também tem outros animais,
olha lá aquele jacaré flutuando no ar. A senhora esta melhor? Tomou o remédio,
esse vento pode fazer mal. "Bença" vozinha, estou atrasado pra ir na
escola.
--Deus te abençoe, meu querido...
--Bruno, você tem que ir, senão vai se atrasar para dar suas
aulas na faculdade. Que faz tanto tempo parado na janela, amor?
--Já estou indo minha amada! Estou mostrando pro nenê o céu,
aonde tem o elefante branco brincando com a vovó!
JDamasio
Pela casa, eu transitava. Quantos vazios. No quarto da
filha, muitas lembranças. A essas, um ursinho de pelúcia, parte da infância da
qual ela se esquecera de levar. Olhei para o urso marrom: encardido,
empoeirado, olhos foscos a me fitarem em cima do armário. Parecendo pular, o
ursinho caiu em meus braços. Estava só (igual a mim). Deitamos no sofá. Antes
do impulso de abraçá-lo, ele me abraçou.
GUERRA
Tenho mil anos.
Foi o que disse o menino.
O soldado riu-se: aterrorizado, o menino variava.
Ou desconhecia o alfabeto numérico.
Tenho mil anos, repetiu ele ante a ameaça da arma.
Se me matar, prosseguiu ele,
Vai-se abrir um buraco maior que o chão.
O soldado fitou os pés e viu o abismo.
Só então deu conta
Que ele mesmo era o menino que matava.
Julio Damasio
Aventura em alto mar
Aproveitei uma viagem à ilha de São Francisco, em Santa Catarina,
para viver uma aventura em alto mar. Era uma pescaria solitária, em um barco
velho. Foram dias de lutas para trazer aquele peixe, ele era maior que o barco!
Depois de muitas câimbras, o dominei, quando voltava com minha conquista, tive
que brigar com os tubarões, sobrevivi, mas meu “peixinho”... Voltei só com a
carcaça e a história daquela pescaria. Acabei a leitura do livro O Velho e o
Mar no ônibus de volta à Curitiba, exausto , porém vitorioso. Depois dormi e
sonhei com os leões, acordei na entrada de São José dos Pinhais.
JDamasio
Gloria Kirinus
Que atire a primeira *palavra* quem precisou se abastecer
dela, no supermercado. Graça que vem de graça, a palavra nos habita desde
sempre. Inquieta, provoca sismos e ganha novo figurado quando reacomoda suas
letras. E vira canto, prece, clamor, rumor, pretexto, protesto, primado,
prurido, abraço, lança ou declaração de amor. Acompanho a palavra coletiva nas
manifestações populares e aprendo novo alfabeto de cidadania, no Brasil
Bárbara Lia
Não-lugar. Nunca encontrei o meu lugar. Em alguns segundos
durante uma vida de quase seis décadas um vento leve bateu. É aqui. E durou
pouco. Um lugar de beleza. O corpo do amante mais amado. O instante relâmpago
do nascimento de um filho, de todos os filhos. Um olhar. Aquela frase que te
humanizou por décadas. O toque silencioso da amizade verdadeira. A poesia de
ter um neto. Estes sentires que duraram nanosegundos na escala dos dias
infindáveis. Não-lugar. O nome escolhido por puro vaticínio _ Estrangeira.
Bárbara invasora. Vândala. Poeta.
segunda-feira, 17 de junho de 2013
Com o ar da graça
Ele sofria quieto, evitando gritar, gemer, chorar. A morte
viria logo, este era seu consolo.
Em fase terminal e plena lucidez aos noventa anos, não
queria que sua dor ferisse ainda mais os sentimentos de seus familiares, em
especial sua bisneta, seu xodó. Há menos de um ano, ele servia de cavalo e
relinchava no trote manco, para parecer mais com um cavalinho, na fantasia de
sua pequena. Era um velho brincalhão.
Conformados, todos esperavam sua partida. A pequena não
entendia como se podia ir embora sem um aceno, sem um “boa viagem”, antecipando
a partida.
Em uma madrugada, quando todos esperavam o seu último
suspiro, a menina entrou discretamente no quarto. De olhos fechados e rosto
contorcido, o bisavô sentiu a presença de sua mais querida garotinha. Abriu um
dos olhos, era como se sorrisse naquele olho lacrimejante. A bisneta lembrou
seu “biso” de quanto ele a fez sorrir, e das vezes que, quando não ria das
piadas sem graça, fazia cócegas nela até abrir o sorriso no rosto e então
parar. Ele ouvia as palavras da menina como sinfonia de amor em tom de
despedida.
Percebendo que seu “biso” estava partindo, disse-lhe: “Boa
viagem, vá bricá com Papai do céu, lá deve ter muita criancinha e também um
jardim cheio de margarida branca”. Com seus dedinhos, passava carinhosamente no
pescoço dele, fazendo-lhe cócegas, tirando não o último suspiro do agonizante,
mas a última risada da alma de um velho brincalhão. Foi-se com o ar da graça
que lhe caía bem à face.
J.Damasio/ Oração de um Quase Descrente / 2006
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