De Mara Paulina Arruda
Verônica uma garçonete em uma cidade fronteiriça assistia o
jornal na TV enquanto recolhia os pratos nas mesas. Reclamava dos clientes que
deixavam os pratos com restos, e outros que mal tinham tocado na comida, sem
falar nas marcas de batom nos copos e dos ossos espalhados nas toalhas de mesa.
Peloamordedeus será que esses clientes não viam que havia um pratinho próprio
para essa finalidade: Verônica fazia essa análise dos fregueses que passavam
pelo restaurante que ficava numa rodovia. Era todo dia a mesma coisa. Gente
desleixada!
Ao parar para ver a notícia deu de cara com uma jornalista
entrevistando a sua mãe. A mãe segurava um cartaz com o seu retrato que
mostrava que ela fazia parte da porcentagem das pessoas desaparecidas no país.
O passado bateu na porta. Nossa como ela envelheceu! Verônica estava perplexa
com a coragem da mãe.
Passados trinta anos da sua partida estava agora vendo o
rosto da mãe que pediu para ela não fosse embora com aquele sujeito com cara de
muro salpicado. Mas por que será que aquela jornalista veio justamente
entrevistar a mãe dela? Só podia ser intencional, não era possível!
Juntou os pratos e saiu segurando o choro que, na cozinha,
desandou.
Buscou o telefone e com um alô mãe reatou a vida perdida em
trinta invernos.
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