segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

"Escreve com sangue e aprenderás que o sangue é espírito." Nietzsche
Se queres ser escritor, escreve com o teu sangue – e não com essa tinta aguada com que se enchem inutilmente tantos livros. Escreve com o teu sangue, com a tua alma, com o teu fígado, com as tuas vísceras. Não te preocupes com que os outros vão dizer, com o mercado, com a glória, com a posteridade. Escreve como se te fosse impossível não fazê-lo. Escreve como um ato de fé, um gesto de vingança, um grito de escárnio: contra o mundo, contra o tempo, contra tudo. Só é escritor aquele que escreve como quem corta os pulsos, aquele que escreve como quem sabe que é Deus, aquele que se lança no jogo de sua própria escritura e, neste salto, constrói ou tenta construir o sentido que a tudo escapa. Se queres ser escritor, portanto, escreve como quem fecunda um corpo novo, como quem funda uma nova linhagem e inventa um novo código de significações. Se queres ser escritor, ama o silêncio, cultiva a solidão e, vez ou outra, algumas doses de angústia com limão e gelo. Não é das festas e dos salões que nascem os grandes livros. Os grandes livros nascem de um profundo sentimento de incompatibilidade com o mundo, de uma revolta surda diante do absurdo, de um adentrar-se constante no vazio de si. O escritor é sempre aquele deslocado, que chegou cedo ou tarde demais, aquele que falhou em tudo, mesmo quando bem sucedido. Aquele que se afasta da multidão e, quando vão procurá-lo, está na sacada, contemplando a lua. Se queres ser um escritor, amigo, o tinteiro será o teu coração e tudo que vieres a escrever terá a coloração, a textura e o adocicado sabor do sangue.

Otto Leopoldo Winck

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