sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

VIUVEZ


Assim como eu colho a água
deste tanque de pedra
com minhas mãos em concha,
e o que me sobra dela,
no exato instante em que,
súbito, as ergo em pânico
ante um pressentimento,
uma recordação,
(teu rosto? tua voz?
o cheiro do teu corpo?),
são somente estas palmas
trêmulas e banhadas;
assim, de nossa história,
dos risos, beijos, gestos,
dádivas generosas
de um tempo já distante,
o que fica é a memória
– lápide, urna mortuária –
que secará um dia
como secou você.

Otto Leopoldo Winck

Um comentário:

Anderson Carlos Maciel disse...

Tal pseudônimo remete a conclusões fortuitas sobre a mesma atemporalidade do gesto de amor comentado em tais luzes urbanas, pretensas, barangonas, todas as linhas podem assaltar o poema. A jurisprudência investigativa das letras e intelectuais pretensos autores em odes estourada de búfalos pelos quatro cantos da solidão no mundo. Quebram nossos sensíveis galhinhos.