Meu coração é uma noite
portátil.
O seu é o sol que abrasa
o lado de lá do mundo.
Dentro do meu coração
há festas e alegria,
mas também ambulâncias e socorristas
e a correria que sucede aos
acidentes.
Dentro do seu só há fogo e luz,
cegueira e incêndio.
No meu, de vez em quando,
também há luzes e incêndios.
Estrelas. Faróis. Globo de
espelhos. A lua.
Mas há bombeiros e água
corrente,
banho e refrigério,
e mais uma vez a lua,
tatuada na pele do lago.
Seu coração dá vida e cor
a todas as coisas e criaturas
(e inclusive ao meu corpo),
e há mesmo quem dê voltas ao
redor dele.
Mas lá dentro, estima-se, nada
vive.
No oco do meu é o contrário:
vivem todos, e bem, e sem medo,
e até o que não quer mais
viver,
até o que não dorme e não sonha
e aquele que não é humano.
O feio animal notívago,
o bom e o mau espírito,
a fera, o verme e a cobra,
a bruxa que um dia amei
e que ardeu pela minha vontade,
o vampiro mordendo o vampiro,
e os pés do dragão, decepados.
O monstro aqui tem seu lar
e o vilão disforme uma chance.
Meu coração é uma noite
portátil.
Com direito a vagalumes.
Na verdade, você
é só mais um deles.
Luís Henrique Pellanda
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