"No ano de 2018, fomos tomados com notícias de que
vulcões despertaram depois de um longo período de sonolência: um foi o da
Guatemala e o outro dos Estados Unidos.
Conviver com um vulcão fareja a proximidade do risco, do
emergente, ele sempre rondará faminto, o chão e o teto da casa, os corpos e as
almas dos que ali vivem.
O livro de poemas de Roberta Tostes Daniel, Uma casa perto
de um vulcão, consagra a assunção do súbito, o susto e o convívio com nosso
estado de efemeridade.
Decerto, ele deve ser a metáfora e a transfiguração daquilo
que sucumbe e nos acocora, nos pondo como sentinela da casa mobiliada de
sonhos, arroubos, vícios e virtudes.
Uma lição extraída ao ler a constituição física de um vulcão
é a impossibilidade realística de confrontá-lo, de estancar a sua erupção
devastadora, e a aprendizagem que remanesce é de se alguém tentar se rebelar e
reagir, sofrerá com o rugido e a fúria de sua varrição.
A meu ver uma casa perto de um vulcão exprime estado de
vigilância, o advérbio “perto” cinge uma fresta, indicando que há algo iminente
– uma antecipada e silenciosa hecatombe.
Por outro lado isso se torna um tanto problemático, quando
se pensa em uma fuga, já que as massas vulcânicas alcançarão em tempo mínimo e
minúsculo o seu alvo.
Então se há perigo declarado e indeterminado, o porquê de
morar próximo e ver diariamente o espelho da vertical finitude?
Carregar em silêncio a probabilidade de ser sitiado por
fumaças quilométricas e lavas, de acordar num nebuloso dia entrelaçando os pés,
as mãos e a cabeça – a cisão e a cizânia – desaparecendo qualquer noção
referencial de lugar e direção segura para assim poupar a própria vida,
admitindo para si o inexorável e imediato fim.
Roberta Tostes nesta obra tem um duto que interliga a
natureza interior com a natureza exterior, há uma produção de sentido
recuperada na releitura de si como ser partícipe deste conglomerado
existencial.
A autora re-significa o torvelinho-mundo, projetando de
dentro para fora, num espelho mimético de palavras; uma correnteza do
experimentado, vivido e lido. Ela recria esta imagem interna e intensa, sem no
entanto, incorrer no risco de dar apenas vazão ao fluxo de pensamento,
escolhendo para cada cena uma cor, extraída de sua ampla paleta imagética,
reverberando assim a sua expressão em um movimento próprio e belo.
Singra a impressão de que no seu artefato poético tem
estampado a expressão do grito [espanto], tal como a famosa pintura de Edvard
Munch, por meio de um olhar plástico, sensível e desvelador."
Jean Narciso Bispo Moura
* resenha publicada em dezembro no site Literatura e
Fechadura. entre os diálogos propiciados pelo livro, ficou faltando divulgar
esse interessante texto do Jean, que recorta realisticamente a imagem do vulcão
para depois perpassá-lo com a ideia de iminência e de participação em uma
natureza múltipla e plástica.
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