sexta-feira, 26 de março de 2010

ESSÊNCIA

Às vezes

Sinto-me batendo nas teclas de um piano mudo

Surpreendo-me camponês

Semeando terras estéreis

Vejo-me voando com asas de cera

Cada vez mais alto, tentando alcançar teus olhos

Tentando alcançar com a ponta dos dedos

Uma lágrima que cai com o vento

Uma gota que se estilhaça ao me aproximar

Me faz parar, deitar e chorar

E te abandonar

E te deixar só em tua ilha distante

Longe dos meus versos azuis

Longe do meu olhar suplicante

Nunca saberás, então

Quanta saudade sentirei no primeiro segundo

No instante em que me rasgar tua ausência

Nunca saberás qual é o gosto de minha essência

Não posso mais vagar pelas trevas

De tua velha mansão em ruínas

Não consigo buscar-te às cegas

Numa queda livre que nunca termina

No entanto

Se tudo que fomos foi poesia

Deixo-te uma garrafa de minha essência

Infelizmente

Vazia.

Eduardo Barcellos Penteado

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