terça-feira, 9 de março de 2010

Rio, cidade monumento

rio imperial, republicano,

tropical, porões inundados de tantos ais,

onde o brasil tomou suas decisões.

rio centro, rio velho,

revisitado, amado, esquecido,

violentado, cantado, versado, proseado.

rio de janeiro, fevereiro e março,

a natureza fez régua e compasso,

aqui cidadania rima com esperança nos próximos passos.

vamos revisitar o rio antigo

praça xv que já foi pelourinho,

largo do passo, palco da abolição inventada

onde as chibatas sangravam a escravidão.

dos arcos dos teles,

onde o comércio das quitandas, do mercado,

de onde os barões guardavam

os frutos do trabalho escravo,

na igreja dos mercadores,

de devoção clandestina e reprovada

pela elite escravocrata e católica.

na igreja do rosário, de são benedito,

dos homens pretos, do sincretismo,

da escrava anastácia, da língua decepada

por ter voz ativa.

do primeiro banco, o do brasil (hoje centro cultural)

da primeira igreja de frente para o mar,

onde a santa candelária protegia

contra indesejáveis visitantes vindos pelo mar,

os monstros, os fantasmas, dragões

e outros perigos que habitavam

a cabeça do homem medieval

rio dos cortiços,

dos pobres livres, das casas coloniais,

dos botecos, dos bares e cafés,

onde literavam nossos poetas e escritores,

agitando os sentimentos abolicionistas

e republicanos.

rio da belle époque,

que bela época de sonhos liberais e capitalistas,

sangue índio e africano,

sonho europeu, orgulho parisiense,

alma brasileira, negro no trabalho,

elitista na opulência,

da avenida que derrubou os cortiços,

e virou central.



Helder Molina

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