rio imperial, republicano,
tropical, porões inundados de tantos ais,
onde o brasil tomou suas decisões.
rio centro, rio velho,
revisitado, amado, esquecido,
violentado, cantado, versado, proseado.
rio de janeiro, fevereiro e março,
a natureza fez régua e compasso,
aqui cidadania rima com esperança nos próximos passos.
vamos revisitar o rio antigo
praça xv que já foi pelourinho,
largo do passo, palco da abolição inventada
onde as chibatas sangravam a escravidão.
dos arcos dos teles,
onde o comércio das quitandas, do mercado,
de onde os barões guardavam
os frutos do trabalho escravo,
na igreja dos mercadores,
de devoção clandestina e reprovada
pela elite escravocrata e católica.
na igreja do rosário, de são benedito,
dos homens pretos, do sincretismo,
da escrava anastácia, da língua decepada
por ter voz ativa.
do primeiro banco, o do brasil (hoje centro cultural)
da primeira igreja de frente para o mar,
onde a santa candelária protegia
contra indesejáveis visitantes vindos pelo mar,
os monstros, os fantasmas, dragões
e outros perigos que habitavam
a cabeça do homem medieval
rio dos cortiços,
dos pobres livres, das casas coloniais,
dos botecos, dos bares e cafés,
onde literavam nossos poetas e escritores,
agitando os sentimentos abolicionistas
e republicanos.
rio da belle époque,
que bela época de sonhos liberais e capitalistas,
sangue índio e africano,
sonho europeu, orgulho parisiense,
alma brasileira, negro no trabalho,
elitista na opulência,
da avenida que derrubou os cortiços,
e virou central.
Helder Molina
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