segunda-feira, 5 de julho de 2010

O rasurado azul de Paris – poemas para Arthur Rimbaud

Flor escandalosa



Meu pai sonhava o deserto

E viveu ao lado do amor

Rimbaud sonhava as areias

Também reinventar o amor

Rimbaud viveu no deserto

Meu pai morreu de amor



Meu pai surfava o mar de estrelas

Com um teodolito da cor da destemperança

- verde oliva que tende ao amarelo –

Quando eu dormia ele soprava

Sementes de poesia

Por cima das minhas cobertas



Rimbaud passava noites inteiras

Regando com um regador de nuvens

Minha alma de fogo e a semente



Nasceu esta flor escandalosa

Misto de estrela e rosa

Da cor dos olhos do amor

E do deserto sonhado

Por meu pai e Rimbaud



Meu pai viveu em poesia

Nunca escreveu um verso

Rimbaud desistiu bem cedo

Meu pai sabia; sabia Rimbaud

O vento que atravessa a cortina

Traz a voz de ambos, mixada:



Ilumine o verbo!

Incendeie a alma!

Faça de corações desertos

Cactos em flor

Sangue em ebulição



*



quando ele corria

pelos telhados de ardósia

as pombas arrulhavam

em ventania

seu casaco – vela sacudida

estremecia

a maré da monotonia

 Bárbara Lia


Fonte – Cronópios



Bárbara Lia é poeta e escritora. Vive em Curitiba. Livros publicados: O sorriso de Leonardo (Kafka ed. – 2.004), Noir (ed. do autor – 2.006), O sal das rosas (Lumme editor – 2.007), A última chuva (ME – ed. alternativas – MG – 2.007). No prelo, lançamento para agosto, o romance Solidão Calcinada (Secretaria da Cultura / Imprensa Oficial do Paraná, romance finalista do Prêmio Nacional do Sesc 2.005 – Site http://www.chaparaasborboletas.blogspot./

E-mail: barbaralia@gmail.com

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