terça-feira, 20 de julho de 2010

RUE NOTRE-DAME-DES-CHAMPS

Danaide - Auguste Rodin




Rue Notre-Dame-des-Champs
Recordas?
Entre nós não foi apenas valsa
Como a que dancei com Debussy
E talhei em mármore.
Não foi espanto apenas
Como meu olhar azul na onda
- Fuji ao fundo -
Terna reverência à Hokusai.
Lampejos de esperança – nosso encontro -
Sem saber que em minha vaga
Ao tecer crianças prestes a um naufrágio
Reproduzia o meu destino trágico
Antes um plágio – roubar o barco de Hokusai, não colocar-me ali.
Mas, com minhas mãos pequenas
Esculpo apenas o que pulsa
Cão criança mulher amado.
Amado!
Raptado pela rosa fendida
Rose, meu espinho
Tu, carinho que eu perdi
Entre as vagas e a maré de egos.


Rue Notre-Dame-des-Champs
Recordas?
A minha agonia que nem podia
Esperar o novo dia
Estar em tua porta
Deitar-me
Natureza morta
Para que me eternizasse
- Danaide -
Sem saber que meus dedos
Iam moldar meu alienado fim:
Rupturas e súplicas.
Espanto em rostos de Ninfas
Medusa, Castelãs, Crianças.


Rue Notre-Dame-des-Champs
Tua criança amorável eu era
Dezoito anos, olhos de céu no dia da criação
Lábios sensuais em flor. Comecei a esculpir
– Pés, pés, pés...
Sem saber que dentro
Da alma fera e feminina
Esculpia um coração de vidro
Sem imaginar que um dia os estilhaços
Ergueria a onda mais alta e brilhante
E me soterraria – viva!


BÁRBARA LIA
Para Camille, com uma flor de pedra
ed.21gramas/2010

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