terça-feira, 9 de novembro de 2010

Beijo na seda

Ela estava ali,à procura de uma cadeira para comprar, rondando como sempre meio tonta em busca do utensílio que a pudesse remediar a tempo, mesmo que não soubesse exatamente o que significava ser remediada a tempo-aliás, as palavras iam perdendo pouco a pouco a transparência que seu pai recomendava :"A frase deve assoprar a névoa que confunde para que possa haver verdadeiro alívio à noite: a cabeça enfim  no travesseiro,já  quase divorciada do verbo ,até que a claridade traga mais uma vez as sílabas,essas operárias das idéias,transações, freios."Num súbito,ela se sentou.De surpresa,beijou o forro adamascado do espaldar como se ela fosse um instinto sem a capa da epiderme,pura flora de nervos,voraz .Uma criança a observa com tenacidade.Feliz...

João Gilberto Noll.in Relâmpagos

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