terça-feira, 2 de novembro de 2010

Morto

Morto !
Estou morto!
E isto trás para perto
O desespero, o medo,
E a curiosidade dos que me velam.
Faço uma festa triste.
Deixo saudades,
Fico com a saudade,
E promovo encontros raros.
Mostro crença a ateus,
E dúvida a cristãos.
Para uns sou algo podre,
Para outros a redenção,
Agora enterrado,
Não vejo mais a luz.
Não sinto mais a luz.
Faço parte do passado.
Sou atacado por vermes.
Estou morto.
Sou fruto decompondo
Na terra, a qual fecundo.
Inexorável transformação
Do que outrora um dia fui.
Sou ser orgânico,
Puxado com a seiva,
Misturado ao adubo.
atravesso as castas deste mundo.
Mais do que isso, indubitavelmente,
volto a ver a luz
Através de meus olhos
Fotossintéticos.
Livre,
Salto pelo ar
Em átomos
Múltiplos.
Não sou mais um,
sou vário,
Misturado aos outros átomos.
Disperso,
Flutuo,
Dissolvo.
Vivo em tudo,
Vivo em todos,
Vivo em você.

Lindomar de Oliveira

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