Apoiou-se no cabo do guarda chuva para se firmar melhor. Esperava o ônibus...Já sentado, apertou a perna direita. Desceu, o guarda- chuva feito bengala. Seguia uma linha imaginária para não cair na rua vazia. Sob o subúrbio descia uma noite precoce,um prenúncio de tormenta no meio da tarde. Entrou no terreno baldio. ao longe, uma voz cantava bêbada.Sorriu,disfarçando a tentação de desistir do que fora fazer ali. Mas reagiu, arregaçou a calça e olhou a perna sem pudor, pela primeira vez a céu aberto : a engrenagem de aço, da coxa ao pé, no tom carregado do céu, logo recebeu os pingos que começavam a se alastrar.era o primeiro passeio da perna mecânica. Abriu os braços com instinto jovial. E deixou-se ficar na tempestade, convalescendo mais e mais...
João Gilberto Noll. in Relâmpagos
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