sábado, 23 de maio de 2015

"Uma das minhas primeiras tarefas, após ler o "Rei da Selva" foi ler Hamlet cuidadosamente e extrair elementos que poderiam ser usados no roteiro. Os desenhos animados da Disney foram concebidos para funcionar em todos os níveis da audiência, com gags físicos para as crianças mais novas, ações e tiradas irreverentes para os adolescentes e piadas subliminares para os adultos.

Rafiki, o babuíno maluco que é um misto de médico e feiticeiro, era um dos personagens mais interessantes no roteiro, combinando elementos de um mentor e de um pícaro. Nas primeiras versões da história, senti que sua utilidade não estava clara. Ele era usado para efeito cômico, como um cara lunático que aparecia para fazer ruídos mágicos mas que não merecia respeito. O rei o via como um estorvo e Zazu, o pássaro conselheiro do rei, o afugentava cada vez que tentava se aproximar do pequeno Simba. Ele tinha pouca função no roteiro após a primeira cena, e aparecia basicamente para dar um relevo de comicidade à história, mais um pícaro do que um mentor. Na reunião que se seguiu à apresentação do storyboard, sugeri que o levássemos um pouco mais a sério como mentor. Talvez Zazu ainda se mostrasse desconfiado e tentasse afastá-lo, porém, Mufasa, mais sábio e compassivo, o deixaria se aproximar do filhote. Tive o impulso de acentuar os aspectos ritualísticos do momento, fazendo referência aos rituais de batismo, ou às cerimônias de coroação nas quais o novo rei ou rainha recebe na testa a aplicação de um óleo sagrado. Rafiki poderia abençoar o leãozinho, talvez com um suco de frutos silvestres ou outra substância da selva. Um dos desenhistas disse que Rafiki já possuía uma bengala com estranhas cabaças amarradas a ela e teve a ideia de que Rafiki poderia quebrar uma delas num gesto enigmático e marcar a fronte do pequeno leão com um líquido colorido"

Don Ramon

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