minha mãe numa tv. meu pai noutra. o irmão escova
os dentes. fotos do prefeito empossado e do arco-íris da tarde, pipocam na
rede. se algo pungisse... antes, desestabilizou a casa a dificuldade de se
comprar guardanapos (nem mesmo o poema – não precisava ser grande coisa –
escrito num deles). como almoçar em paz se não há guardanapos? salvam-nos as
crianças que mordem umas as outras, jogam-se do escorregador, vão de roupa no
banhado e quando “qual tio você mais gosta” dizem “tio Fê”. daí a noite chega e
segue e agora mesmo, meia-noite, mais uma Virada, do dia 01 pro dia 02. nem sei
se por rebeldia, há vinte anos em Guaratuba passei o Réveillon vestido todo de
preto (tenho foto pra mostrar). terá sido ali o começo do meu “vai se gauche na
vida” pessoal? me dá certa ternura pela elegante roupa branca da noite anterior
esperando sobre a cadeira, manchada de refrigerante. ah se algo pungisse... mas
opa, pera aí, punge sim. um bezerro de há séculos? um cão a ladrar modos
estranhos da vizinhança? será o fantasma de um infante? (os vivos assim não
pranteiam pra além das paredes, pra além dos próprios quintais). e aí tem
inicio esta chuvinha à toa, nem sei se na dor do mundo.
Luis Felipe Leprevost
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