Os franceses
(De Mara Paulina Arruda)
Olhem em volta desta rodoviária. É tudo tão familiar e
ao mesmo tempo tão distante e estranho. Estava esperando o meu namorado chegar,
olhava os meus pés para ver se as horas passavam mais rápido. Quê nada! Parecia
o andar de uma tartaruga. Nada para fazer... Sentados nos bancos homens,
mulheres e crianças. Um casal despedia-se em francês. Em francês? Humm... A
curiosidade bateu na minha janela e eu fiquei atenta para descobrir o que eles
falavam. Foi um bom passatempo. Consta nos altos da minha árvore genealógica
que sou descendente desse povo. O bosque da obscuridade verbal. Comecei a
imaginar e a inventar o significado das palavras proferidas por eles. Sei lá
porque carga d’água lembrei-me da pintura Terceira classe de Tarsila do Amaral.
Deu-me uma tristeza sem fim. Mas não por muito tempo. Prestei atenção no falar
obscuro daqueles verbos aos quais eu ainda não decifrara. A mulher, com um
lenço amarelo amarrado no pescoço, vestia-se com um tailleur de linho e
enquanto falava, gesticulava. O homem, um pouco mais moderado, respondia
balançando a cabeça. Ouvi-o dizer Coisas que acontecem no bordado da vida: La
passion, merci d’être venu, lês bêtes dela mer, Henry Matisse, galerie,
merci... Espere um pouco: Eles estavam se despedindo e ela falou em Henry
Matisse? Ah, esse artista eu sei quem é! Pensei em interrompê-los para me
comunicar com eles, mas o ônibus que eu estava esperando chegou. Levantei-me e
fui receber o meu amigo. Neste meio tempo, os franceses desapareceram. Au
revoir, eu disse.
Nenhum comentário:
Postar um comentário