sábado, 19 de janeiro de 2013

Os franceses



 (De Mara Paulina Arruda)

Olhem em volta desta rodoviária. É tudo tão familiar e ao mesmo tempo tão distante e estranho. Estava esperando o meu namorado chegar, olhava os meus pés para ver se as horas passavam mais rápido. Quê nada! Parecia o andar de uma tartaruga. Nada para fazer... Sentados nos bancos homens, mulheres e crianças. Um casal despedia-se em francês. Em francês? Humm... A curiosidade bateu na minha janela e eu fiquei atenta para descobrir o que eles falavam. Foi um bom passatempo. Consta nos altos da minha árvore genealógica que sou descendente desse povo. O bosque da obscuridade verbal. Comecei a imaginar e a inventar o significado das palavras proferidas por eles. Sei lá porque carga d’água lembrei-me da pintura Terceira classe de Tarsila do Amaral. Deu-me uma tristeza sem fim. Mas não por muito tempo. Prestei atenção no falar obscuro daqueles verbos aos quais eu ainda não decifrara. A mulher, com um lenço amarelo amarrado no pescoço, vestia-se com um tailleur de linho e enquanto falava, gesticulava. O homem, um pouco mais moderado, respondia balançando a cabeça. Ouvi-o dizer Coisas que acontecem no bordado da vida: La passion, merci d’être venu, lês bêtes dela mer, Henry Matisse, galerie, merci... Espere um pouco: Eles estavam se despedindo e ela falou em Henry Matisse? Ah, esse artista eu sei quem é! Pensei em interrompê-los para me comunicar com eles, mas o ônibus que eu estava esperando chegou. Levantei-me e fui receber o meu amigo. Neste meio tempo, os franceses desapareceram. Au revoir, eu disse.

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