feliz por escutar adjetivos como bizarro, estranho, maluco.
não é de hoje que acontece. não é de hoje que me abordam com nossa, você me
surpreendeu. enquanto o espanto continuar, estarei vivo. a vaidade sofre,
claro, mas olhando racionalmente tenho que saber que é bom. é importante que as
pessoas continuem duvidando, achando que não sou capaz, achando que a “massa”
(como se todos não fizéssemos parte) não tem condições de compreender. seguirei
querendo provar o contrário. desde o dia em que minha tia L, sobre meu primeiro
livro, disse não entendo uma única linha do que você escreve, desde aquele dia,
estou mostrando pra ela que sim, que ela entende sim. e que ter me dito isso, é
ter entendido, com o repertório dela, do jeito dela, como ela pode e quis. há
muito de querer nisso tudo. você pode passar a vida não querendo entender,
fazendo o elogio ao conforto, a facilidade daquilo que chega mastigado. mas
você pode também dizer, como fiz tantas e tantas vezes (talvez não o
suficiente), de fato, há mais coisas relacionadas a esta obra do que fui capaz
de alcançar. mas o que eu fui capaz de alcançar? ah, isso e isso e isso. aqui já
um entendimento, aqui já um saber, diferente do não sei e não quero saber, que
é também uma forma, embora ignorante, covarde, preconceituoso, miserável, de
saber. a minha política é sempre dizer pra pessoa que sim, ela sabe, ela
entendeu, mas só não se conscientizou do que e do como. com o que e o como,
vai-se mais fundo, mas não admito sejam usados a arte e o conhecimento como
forma de humilhação. ninguém é melhor que ninguém porque está em cima de um
palco, ninguém é melhor que ninguém porque é um cientista com trinta e quatro
títulos. todos em algum lugar têm preservada a sua inteligência. por mais
bitolado, por mais que minta pra si mesmo, está lá aquilo que Fernando Pessoa
escreveu a inteligência é um instinto, a inteligência é um instinto. é aqui e agora
que preciso fazer de novo o que faço há anos. preciso fazer mais uma vez, sem
concessões, com minhas letras mais pesadas, com minhas palavras mais doces, com
minha violência e meu amor. faço porque preciso, faço porque quero, faço porque
querem e porque não querem que eu faça. sou poeta por, como disse Leminski de
si, fatalidade de destino. as pessoas que falam mal de mim não terão mais o
poder de me ofender, agora que entendi que sua repulsa é também uma forma de
reconhecimento. fazer um show de horrores me enobrece, sei que não estou
vinculado a uma ideia de beleza banalizada, empobrecida, padronizada. estou
fazendo o meu melhor do meu jeito, e o meu jeito não é feio, é bonito
justamente porque é singular. prefiro o diferente. ainda a poesia.
Luiz Felipe Leprevost
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