terça-feira, 7 de abril de 2015

ARSENAL


Molho de chaves num bolso, no outro
Um pente Flamengo, a carteira,
A camisa escondida pelo casaco,
Lenço de papel pra rinite,
Que sempre se manifesta,
Faça frio ou calor.
E o Rivotril a acalmar
O ansioso expediente.
O fundamental é pouco
O arsenal dessas minúcias
Que levo no cotidiano,
Me equilibrando nas pernas.
Saio para o trabalho, as telas, as tintas,
Tomado desses objetos,
Minhas armas, meus remédios,
Como se eu fosse um armário,
Ser esgotado, abjeto –
Vir-se-á o tempo da leveza.
Fizeram disso o que foi
No passado um homem bom,
O suficiente, pacato. Com
Pouca coisa a levar.
A chave, a carteira, o revólver.

E bastava, e bastava.

Paulo Betancur

Um comentário:

Anderson Carlos Maciel disse...

Parece desnudo de significações e imagens. Subjetividade em carne-viva. Reféms de volumes psiquiátricos estamos todos nós, precisamos voltar a ler literatura e poesia a elencar sublimação da personalidade menos dependente de opinião taxonômica radioativa no ser, que são os entorpecentes legalmente permitidos. A morte chegará, precisamos nos entreter, acasalar, reproduzir a espécie, levar os filhos que irão nascer a psiquiatras que também irão nascer. Abstrair planos e estatísticas sociológicas afins, de maneira que a roda da metafísica universal não estacione por falta de divertimento mórbido.

Bom dia, amor universal e nova consciência cósmica cartesiana. Sucesso e luz no coração dos que não amam. E aos que amam, que não camuflem, disfarcem, em linguagens televisivas em analogia do cacofônico. Lindos poemas esta manhã. Estou me sentindo melhor agora, acordando para novos vazios e tédios absolutos da vontade egocêntrica.