sábado, 4 de abril de 2015

Otto Leopoldo Winck



Quando adolescente me apaixonei por Capitu. (Só um adolescente mesmo pra se apaixonar um personagem!) Seu jeito de cigana, seus olhos oblíquos e dissimulados... Eu sabia que ela ia me trair: com Bentinho, com Escobar e com milhares de leitores. Mas me apaixonei assim mesmo. A gente nem sempre se apaixona pelo que é certo, correto, justo... Muitas vezes o abismo é mais fascinante, sedutor. Desde então sou apaixonado pelo mar em noites de ressaca. Suas ondas se arremessando loucas contra as pedras... Me vejo sobre um promontório, contemplando a noite de borrasca. Como um poeta alemão do Sturm und Drang. Tudo isso culpa da Capitu. Mas eu traí Capitu também. Com Emma Bovary, com a Sra. Arnoux, com Anna Karenina... Ih, com tantas! Ah, mas não há nada como o primeiro amor... Capitu, eu sei que você não existe e nunca existiu, que é criação de um bruxo do Cosme Velho amargurado com a vida. Mas toma essas linhas tortas que escrevo nesta Sexta-Feira da Paixão como um beijo. Um beijo de paixão. Te amo, Capitu. Teu para toda a vida.

Um comentário:

Anderson Carlos Maciel disse...

A falta de incentivo torna o sonho irreal. Somos livres para voar com as asas da beleza e da forma. Difícil amar, mesmo, em um ambiente de vaidade e psicanálise por todos os lados, como agulhas e setas de superioridade auto-proclamada direcionadas a cada sílaba de nossa agonia. O amor à maneira grega é adquirido pela flechada de Eros, para conseguí-lo terá de praticar esforços sobre-humanos de justificação teológica e angariar as graças do deus do amor. Atravessar o estige como Psiquê, - a sua amada - e tornar o espírito imortal diante da plenitude de estar pela eternidade ao lado de seu amor.