terça-feira, 7 de abril de 2015

PROCURA DA POESIA


Poeta que é poeta
não olha a lua
nunca viu a lua
nunca parou
para saber da presença
de um satélite
Poeta que é poeta
não abre gaiolas
para libertar passarinhos
Nem tem gaiolas
Nem olha o céu
Na terra reside o universo
Poeta que é poeta
mergulha no escuro
o sol é um fósforo queimando os dedos
ele observa, sem pressa,
o musgo crescendo em volta da pedra
Tempo e espaço não são metáforas
Poeta que é poeta
tem um jardim cercado
de arame farpado. Dentro,
as placas dos nomes dos mortos
para que floresçam
Nem flores, nem borboletas
nem voos que não sejam de aviões
Poeta que é poeta
habita a noite fechada do silêncio
agita sua cabeleira como se fosse uma tempestade
Poeta que é poeta
olha a bunda das mulheres
seus dissimulados olhares, os cílios:
uma cortina que nem abriu
e começou o espetáculo
O resto é mistificação.

Paulo Betancur



Um comentário:

Anderson Carlos Maciel disse...

Incorreção imagética. A sensibilidade masculina desafiaria o bom senso intelectual feminista na cozinha poética e no tanque poético ao lado.

Amor universal e compreensão fraterna entre homens e mulheres.

Bom dia a todos os inteligentes debatedores.