sexta-feira, 3 de abril de 2015

Bárbara Lia


Personagens dos meus romances inéditos tramam uma rebelião. Cansaram de ficar na gaveta. Sem ar, sem outros olhos a vasculhar suas almas e cenas. Estas meninas de nomes leves com vidas duras e pesadas. Aurora, Diana, Brisa, Beatriz... Presas dentro de narrativas, caminhos que passam pela noite, sempre. A noite é meu signo, e a solidão a casa onde hospedo esta gente. Quando termino um livro e coloco um final feliz, depois eu volto e desmonto o cenário. Tiro o amor do amor, alguém morre, alguém viaja, alguém desaparece... Acho piegas final feliz qual daqueles livros - Sabrina - Julia. Aqueles livros onde a mulher só existe para encontrar alguém. Como se não fosse um ser inteiro, como se fosse inferior e incompleta, sem o adendo - marido, homem, cavaleiro de armadura dourada ao lado. A mulher inteira é meu canto, só sei escrever interiores de pedra, mas, ao lado, sempre a leveza de flor que rompe - em vida - o árido. Uma mente liberta sabe que é possível ser livre e ser banhada na ternura quando está ao lado daquele. Aquele, o outro, o belo, o que remexe as estrias da alma. Aquele que embala em suave tecido o ser inteiro, quando os olhos cerram e a memória recupera, o não-príncipe, o não-dono, o outro... Talhado para cruzar – ao seu lado - pântanos e nuvens... O homem-poema.

Nenhum comentário: