sábado, 27 de fevereiro de 2016

ORA, ABÓBORAS!


(Lauro Volaco)

Estava me esquecendo de contar uma das minhas peripécias na qual passei um dos maiores medos de altura da minha vida. Ao mesmo tempo, lembro-me da fartura de abóboras existente em Piraí dos velhos tempos.
Espero que você goste de causos, pois este é um que quero contar com calma.
Certo dia meu pai convidou-nos, meu irmão e eu, para irmos para uma fazenda de um amigo dele, buscar abóboras. Achamos estranho, pois tínhamos também abóboras, morangas, mogangos, gila, e sei mais lá quantas espécies plantadas no quintal de nossa casa. Mas naquela época, filho não ficava perguntado para o pai sobre tudo o que acontecia. Além do mais, gostávamos de sair para outros lugares que não eram alcançados pelos olhos de lince da minha mãe, e sempre íamos pensando em alguma “arte nova”, pois gostávamos de aventuras perigosas. Fomos com a nossa caminhonete “de Soto” e meu pai levou também o tio Rubem e mais um empregado. Para que tanta gente, eu ainda não sabia, mas devia ser muito trabalhoso o que ele iria fazer.
Chegando à fazenda, fomos recebidos pelo capataz que tinha de cor todas as instruções recebidas do patrão, e foi conosco para uma plantação enorme (estou falando enorme mesmo) de abóboras. Descia e subia morros e não se conseguia avistara o fim daquela plantação. Falou que podíamos pegar quantas abóboras quiséssemos e foi junto nos ajudar.
Não precisa dizer que logo alegamos cansaço e fomos liberados para brincar. E aí foi que morava o perigo. No topo de um daqueles morros tinha uma árvore enorme e um cipó bem grosso que chegava quase ao solo. Testamos o cipó e percebemos que ele aguentava o nosso peso junto e de mais uns dois homens adultos, de tão forte que era. No começo, enquanto estávamos com a adrenalina baixa, nos balançamos paralelamente à crista do morro, onde nossos pés quase que roçavam no chão o tempo todo. De repente, pensamos: queremos um percurso grande e não esta “porcariazinha” de deslocamento. E queremos testar nossa coragem e o coração. Outra vez, balançando pouco, saíamos do topo do monte pendurado no cipó e ficávamos a uns dois metros do chão, em direção à sua base. Quem disse que ficou nisso? Aumentamos o trajeto, dando mais embalo. Aí a coisa foi ficando séria e o medo cada vez maior, pois se não tivéssemos força para ficar grudados no cipó, cairíamos bem alto em direção ao solo e ainda rolaríamos morro abaixo. Então tivemos a ideia de puxar o cipó o mais que pudéssemos para trás, e ainda ir empurrando com toda a força, para ele ficar o mais alto possível do chão. A sensação de altura, misturada com a força que ia minguando à medida que o tempo passava para fazer um ciclo completo, podendo ter a possibilidade de morrer se soltasse do cipó, fez com que a adrenalina chegasse ao ponto máximo. Imagino que a altura a que chegamos, era de uns quinze metros acima do nível da encosta do morro. Uma escapada e era menos um membro da família Volaco vivo. Felizmente, nosso santo era forte e sobrevivemos com as mãos cheias de vermelhão de bolhas que estavam querendo aparecer. Pura emoção! Só não enchi as calças por não ter outra para trocar e ser feio demonstrar que tinha me borrado de medo.
Mas eu estava contando das abóboras: enchemos a caminhonete até a borda da carroceria, com centenas de abóboras de todos os tamanhos e peso. Sabe para o que era este estoque tão grande? Para alimentar nossos porcos que moravam num mangueirão nos fundos da chácara, e assim baratear o custo e também para ficarem com a carne mais limpa para o final de ano que se aproximava. Seria um porco todo especial para servir nas nossas ceias e jantares na época.
Delícia combinar tantas emoções numa coisa que para muitos de vocês pode parecer sem graça, para alguns loucura ou desperdício, e outros talvez imaginassem uma aventura ou ainda exibicionismo puro de crianças muito loucas. Não importa, pois nós soubemos aproveitar aquela oportunidade para voar no espaço e no tempo, literalmente! Sem asa e sem motor, embalados somente pelo nosso destemor!


COLETÂNEA DE CAUSOS, CRÔNICAS E POEMAS "PIRAÍ DE ANTIGAMENTE"

Nenhum comentário: