segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

DOENÇA CONSUMISTA

Naqueles maravilhosos tempos antigos, a vida em família era muito curiosa. Nossa família pelo lado do meu pai Lauro Volaco era bem grande e quase todos moravam em Pirai. Então, tínhamos um bando de primos de todas as idades, o que permitia que sempre pudéssemos brincar com outros que pensassem como nós e suportassem as nossas brincadeiras. As primas eram mais delicadas e não entravam em qualquer uma delas, sendo muito seletivas. Nossos pais quase não deixavam que fôssemos para a casa dos primos e primas para brincar, pois sabiam que mesmo sob as vistas dos nossos tios, não era fácil conter os nossos arroubos de loucura. Além do mais, tínhamos um quintal enorme e ainda a chácara maior ainda no fundo do quintal. Mas, em ocasiões especiais e dependendo do bom comportamento e principalmente das boas notas no grupo escolar, podíamos brincar por tempos determinados e acordados previamente, na casa deles. Era uma delícia. E mais ainda, se tivéssemos sido espetaculares (o que era meio raro), podíamos passar alguns dias de férias nas duas casas de tios que já moravam em Castro: o tio Juca e a tia Ivone.
Aí, estávamos no paraíso, pois nossa liberdade era ampliada muitas vezes e eles nos deixavam brincar em territórios mais amplos que simplesmente os quintais das suas casas, que também eram enormes. Numa destas idas para Castro, meu primo Ivoniel e seu irmão Norton, nos levaram para um tanque em que umas mulheres lavavam roupa. Não demorou muito para estarmos nadando dentro do tanque. O interessante é que eles não entraram. Achei que era por medo e como o Tercis e eu desconhecíamos este componente, não esperamos duas vezes. Só que vimos haver alguma coisa errada, pois eles não eram mais santinhos que nós. Insistiram tanto, que saímos do tanque, com a roupa do corpo toda molhada, pois não tínhamos levado calção. Então veio a bomba de notícia: nos disseram que aquele tanque era frequentado por leprosas e que era uma doença que pegava por contato. Ficamos apavorados, pois o contato tinha sido completo com a água que elas usavam.
Chegando em casa da tia Ivone, além de uma bronca, ela reforçou a história das leprosas. Durante dias e noites, meses e acredito que até um ano, ficávamos vendo se não apareciam manchas que iriam corroer posteriormente o nosso corpo até que tivéssemos que ser isolados num leprosário, com partes deles sendo consumidas pela doença e depois caindo aos pedaços até desaparecermos em vida.


COLETÂNEA DE CAUSOS, CRÔNICAS E POEMAS "PIRAÍ DE ANTIGAMENTE"
(Lauro Volaco)

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