sábado, 20 de fevereiro de 2016

SER PROFESSOR




(Jusley Sabino)

Sou de uma família em que a maioria nasceu com o doce dom de lecionar, neta, filha, sobrinha e irmã de professores. Amo minha profissão e não saberia fazer outra coisa que não fosse ensinar.
Sou de uma geração em que cantávamos os hinos na fila e quando entrava outro professor ou alguém na sala, ficávamos em pé.
Do tempo no qual ninguém se atrevia a responder de maneira mal educada ao professor, pois se o fizéssemos, levávamos “reguada”.
No Colégio Santa Marcelina levei muitas “grimpadas” da Ir. Úrsula e da Ir. Iria, e tinha um medo terrível da Ir. Aurélia, pois se errasse o ponto, era tapa na certa.
Como sempre amei cores fortes, ganhei uma fita roxa da mãe. Ela sempre fazia um rabo de cavalo em meu cabelo, que me deixava cara de japonesa, e naquele dia finalizou com a tal fita, feita um belo laço.
A Ir. Íria me bateu tanto, até cair o laço o cabelo, pois eu havia desobedecido. As cores das fitas só poderiam ser brancas ou marinhas, e os pais não ousavam questionar os procedimentos da escola.
Uma vez a mãe lavou meu casaco que era azul marinho e não secou, tive que ir com um branco. A Ir. Úrsula me deixou ficar, porém perdi o recreio e lógico que não se podia comer em sala de aula.
No colégio usávamos sapatilhas, par não riscar o chão e íamos rezar na capela, e eu amava o dia de ir.
Mas os tempos mudaram, agora a nós, professores, é proibido gritar, xingar, falar alto, pois se fizermos isso, somos processados. Os alunos só exigem, só têm direitos. Acabaram-se os deveres.
O bolsa família, obriga os alunos terem presença, então vão de má vontade. E devido a tudo isso eu já levei cuspida no rosto, já fui chamada de prostituta, um aluno torceu minha mão, tive que ir a Ponta Grossa em consulta com ortopedista. Quando o pai foi chamado, disse-me:
- Este é dos bons, puxou a mim. Me orgulho dele.
Como tenho parafusos na perna, a cicatriz é enorme. Um aluno me chutou bem no local e lógico que eu caí, e enquanto estava no chão, ele me chutou a coluna. Novamente fui ao ortopedista
Não há punição, mesmo abrindo processos, nada acontece.

Infelizmente os tempos mudaram e para pior.

COLETÂNEA DE CAUSOS, CRÔNICAS E POEMAS "PIRAÍ DE ANTIGAMENTE"

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