Há uma porta absurda que abre para o Nada.
Há sonhos que são maçãs, e tudo é possível-até a invenção do real.
É então que me pego de bem com a vida , arejo a casa , deixo o chão limpo. Eu sei que ficará sobrando uma cadeira. Farei assim de propósito, para ferir minha vida com tua marca, que só a dor de te lembrar me faz ciente que viver é tão fugaz e tão precioso.
Meço os gestos,o movimento dos dedos, a lentidão da faca cortando maçãs.Valorizo cada movimento.O zumbido do inseto.A cor do musgo . A tênue brisa que faz o mato farfalhar.
Aí é que uma lágrima foge em meu sorriso. É que me faz muita falta,mano, tua presença nesta tarde de musgos e maçãs.
Mas me mantenho inteiro, sabendo que q ti só resta o quebrar-se,como uma xícara se quebra,não um sonho, que nele você permanece igual a um dia que eu estava de bem comigo,arejei a casa ,deixei o chão limpo,enquanto esperava você chegar da escalada.
Se sonho que me sonhas,um perfume de frutas vem não sei de onde e se estende por todo o aposento.
Além do sonho há uma porta,eu sei.
Já tenho o sonho e a senha,tenho a sanha e a covardia,tenho a noite e a luz do dia,tudo o que via e havia.Tenho lascas,corpo inteiro,matagal,caminho aberto,lances de longe e de perto.Tenho a chuva que caía cerca da boca da noite.
Lembrança de um céu riscado por lâmpadas e açoites. E o sol que tudo clareia quando a vida vai a meia distância entre agora e ontem.Tenho ventos e ventanas ,portas e salas vazias,paisagem de calmarias,copas,troncos,galhos,rama,tenho todo o panorama.Tenho(mais !)a casa cheia;cadeiras,a mesa,a cama,repletas de gente amiga compondo à maneira antiga pelos trajes com que assoma. Pois tudo é ontem. Acabada, a história descansa em paz. Hoje,tenho o sonho e a senha,a sanha ficou para trás. (Faço silêncio pro moço finado que em mim jaz.)
Nelson Padrella
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