sábado, 22 de janeiro de 2011

A primeira neve do ano

Cidade perto do porto. Imagens feito miniaturas de cristal. Baía. Ela preguiçosamente folheava livros em francês. Lápis com pontas agudíssimas acompanhando folhas eternamente vazias, imaculadas. Talvez pretendesse escrever poemas de profundidade incontestável. O sol raquítico parecia istaurar o paraíso onde nos perdíamos, a cidade de tão poucas vozes onde nos comprazíamos em dividir solicitudes, admiração, sentidos. ela os olhos mais melancólicos, meu deus o que escondem ? Às vezes sorri. Descemos as ruas desertas. Por dentro os beijos mais deselegantes, invejáveis, fundos. Por dentro bemóis que acentuam a delicadeza do momento, fazem o sol se arrefecer e instaurar lilazes, porventuras. Arestas desaparecem. Por dentro coros de meninos virgens cantando a capela. Melismas talvez. Por dentro o silêncio transformado em flores .

Luci Collin

Fragmento de ' A primeira neve do ano ', do livro Precioso Impreciso, de Luci Collin
(Edições Ciência do Acidente,2001)

Nenhum comentário: