sábado, 22 de janeiro de 2011

O poeta

No telefone do poeta
desceram vozes sem cabeça
desceu um susto desceu o medo
da morte de neve.

O telefone com asas e o poeta
pensando que fosse avião
que levaria de sua noite furiosa
aquelas máquinas em fuga.

Ora, na sala do poeta o relógio
marcava horas que ninguém vivera.
O telefone nem mulher nem sobrado,
ao teleefone o pássaro-trovão.

Nuvens porém brancas de pássaros
ascenderam a noite do poeta
e nos olhos, vistos por fora, do poeta
vão nascer duas flores secas.

João Cabral de Melo Neto
in:O cão sem plumas,RJ, Alfaguara,2007

Nenhum comentário: