No telefone do poeta
desceram vozes sem cabeça
desceu um susto desceu o medo
da morte de neve.
O telefone com asas e o poeta
pensando que fosse avião
que levaria de sua noite furiosa
aquelas máquinas em fuga.
Ora, na sala do poeta o relógio
marcava horas que ninguém vivera.
O telefone nem mulher nem sobrado,
ao teleefone o pássaro-trovão.
Nuvens porém brancas de pássaros
ascenderam a noite do poeta
e nos olhos, vistos por fora, do poeta
vão nascer duas flores secas.
João Cabral de Melo Neto
in:O cão sem plumas,RJ, Alfaguara,2007
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