Ele corre pelas ruas cravejadas de poeira e luar. Sabe que vai encontrar aquela que ama, embora não saiba seu nome, e seu rosto seja uma sombra. Quando conseguir encontrá-la, saberá que é ela, pois sabe da solidão que contêm os olhos daquela que ama. As ruas da cidade são cinzentas; caminha por ruínas, vê altos edifícios. Entre escombros, pó e medo,pessoas se movimentam, catam coisas, gritam. Uma menina chora. Um gato corre e sobe em latas de lixo prateadas pela lua. E o homem continua correndo em busca da mulher cujos olhos irradiam solidão. Ela não aparece, mas sabe que vai encontrá-la. Vê um prédio em ruínas, uma casa onde há muito tempo uma família teria vivido. No jardim cresce o mato. As vidraças estão quebradas, as paredes, manchadas. A porta se abre para um salão imenso e devastado. E uma incrível solidão passa pelo seu rosto como um vento e lhe cerra os olhos. Quando os abre, reconhece os olhos de solidão que brilham diante dos seus. E naquela lúgubre solidão, ambos bailam ao som de cigarras boêmias. Já reconhece o rosto daquela mulher que sempre conheceu. Não sabe seu nome. Mão precisa sabê-lo. É como se já soubessem tudo. E um estranho abandono os harmoniza. E ele entoa uma canção silenciosa que exala solidão e nácar. A canção os faz bailar pela noite cheia de sonhos, através da cidade passiva. Mas a cidade não entende seus anseios de libertação. A cidade não percebe em seu anonimato cinzento, repleto de dores e gritos a ânsia que os move e os torna contraditórios. Entre ruínas, edifícios, lâmpadas, fios, fagulhas, pontilhões, ele e ela se movimentam leves, borboletas perdidas entre automóveis. Sobrevoam a cidade. Se escondem. Ela ri. Ele vê seu véu, longínquo, seu vulto.
Ele acorda em meio à desordem do velho apartamento. Na cama, no quarto, nenhum vestígio da presença feminina. Tenta recordar do rosto, mas no lugar dele, novamente uma sombra. Somente um riso vago de mulher. Se lembra da casa em ruínas, das ruas de pessoas tristes, mas do rosto...
Sai ás ruas, percorrendo-as entre ruídos, fumaça, automóveis,pontes, céu cinzento. Ele corre pelas ruas cravejadas de poeira e luar.
Juliana Pretto
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