quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Brasília

Uma manhã ensolarada chegou como que trazida pelo vento e pelas águas cristalinas. É dia claro e silencioso em Brasília. O lago, a torre, os prédios do poder central, enfim a alvorada. Brasília que fez de meu irmão um homem, mas que também, com seus ares secos, fez dele um menino grande e feliz, trazendo-o de volta com suas memórias e saudades. É Brasília que esqueceu de mostrar a ele a realidade congelada de nossa cidade. Para ele , muitos gritos de dor e marcas passadas foram silenciados pelo movimento ou pelo magnetismo daquelas ruas . Brasília , que não tem geografia mas sim geometria , batizou tantos amores que se foram para lá, a fim de simplesmente sepultá-los e remetê-los novamente ao sul . Não é desta vasta Brasília que falo, mas da Brasília de meu irmão, que me encanta por sua ousadia e frieza , mas que me atemoriza pelo silêncio de sua noite. A Brasília que emprestou sua beleza construída de arquitetura, em forma de felicidade, para meu irmão e ele, por tanto buscar sua paz, soube recebê-la e acomodá-la no local mais confortável que possui: seu coração . Não falo dessa Brasília dos jornais, dos homens e do poder:a Capital, mas da Brasília que sempre me veio romântica e feliz pelas palavras de meu irmão. A Brasília de tantos amigos e abrigos, a Brasília que não está impressa  na insensibilidade de um  mapa , mas a Brasília que, junto com ele, fui descobrindo aos pedaços, um pouquinho a cada dia . Falo dessa Brasília onde finalmente voltei a ver meu irmão feliz: um sorriso no rosto, um amor no coração. Espero que, ao final de cada dia , Brasília seja abençoada e durma em paz, embalando todos os sonhos de quem lá encontrou o que chamam de felicidade e que, no fundo no fundo, é apenas a vida de cada um. Rogo para que, sempre que preciso, como já o fez, Brasília receba meu irmão, renovando-lhe todos dos sonhos e anseios. Uma manhã ensolarada chegou como que trazida pelo vento e pelas águas cristalinas. Era a manhã de Brasília.

Curitiba 15/11/1999

Alexandre Schwartz
Manifesto Arte .Fevereiro 2004

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