quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A flor dentro da árvore - Bárbara Lia



A reinvenção de Bárbara:
não vim quebrar as pernas do sol


Se você está aqui, amigo leitor, devido ao bonito título desse novo livro da poeta e romancista Bárbara Lia, A flor dentro da árvore, saiba que a mim ele atraiu. Uma coisa dentro da outra, de múltiplos sentidos, nesse caso também define a concepção do volume. A partir da leitura da epígrafe da poeta Emily Dickinson (1830-1886), que inaugurou junto com Walt Whitman a moderna poesia norte-americana, o leitor pode desconfiar que os títulos dos poemas, sempre entre aspas, sejam versos, ramos de Emily, e se o faz, acertam em cheio.
O que nos poetas costuma ser um dos rostos do acaso, parir versos a partir de um trecho de leitura, Bárbara sistematiza, poema a poema, e com voz própria. Emily, assim, figura como uma paixão inseminadora. Não que seja a única: poetas, escritores, músicos, artistas plásticos, filósofos, seres míticos e ficcionais são citados, como se de todos a poeta e a obra necessitassem para existir.
Com voz forte e corajosa, Bárbara diz a que veio: “Não nasci para resfriar o mundo/ Neste lento cortejo de omissões/ (...) Não vim quebrar as pernas do sol/ (...) Nasci para amar sem lastro/ Para dançar no pátio/ It’s my way” (“Até que os serafins acenem com seus chapéus brancos”). E pugna pela transparência diante do outro: “Teço/ Um ego-vidraça/ Para que enxergues/ Meu Eu// Teço/ Uma nuvem lassa/ Cortina que qualquer mão/ Atravessa// Teço/ Um hímen de fumaça” (“Uma migalha de mim”).
Bárbara dá a ver como um mero sinal impacta: “Til a til emendados/ Sinuosa corda/ Negra/ Infinita// (...) Til a til retirados/ De cada não/ Que ouvi na vida”. Contudo, a voz lírica não se submete: “De não em não/ Alçar estrelas” (“Rota de Evanescência”).
(...)
- fragmento da apresentação do Sidnei Schneider - Poeta, tradutor e contista. Autor dos livros de poesia Quichiligangues (Dahmer, 2008), Plano de Navegação (Dahmer, 1999) e tradutor de Versos Singelos/José Martí (SBS, 1997).


***



“Até que os serafins acenem com seus chapéus brancos”


Não nasci para resfriar o mundo
Neste lerdo cortejo de omissões
Estas palavras interditas
Suspensas

Não vim quebrar as pernas do sol
Silenciar cada bemol
Não vim para arrebentar o anzol
Do velho de Hemingway

Sou mar e trovão no coração
Nasci para amar sem lastro
Para dançar no pátio
It is my way

Bárbara Lia
A flor dentro da árvore (2011)

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