sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

o que nos olha quando olhamos


o hortelão
que espanta gafanhotos do trigal
para que o pão prospere
nas bocas famintas dos homens
o deus gráfico
que imprime calendários na prensa de gutemberg
e espreme limões azedos
para pingar nos olhos das datas vitalícias
o domador de esfinges
que limpa os estábulos
da história
e deposita a levedura do novo
no flanco esquerdo
dos que lutam sem trégua
os relógios,
os relógios
prosperam no rio de Heráclito
onde rolam emancipações e infortúnios
- a queda da bastilha,
os panópticos que agudizam retinas
e brincam com formigas encarceradas/
a rosa dentro da engrenagem/
o sangue dentro da rosa
a verter seu colorau para um sudário,
o sal
na saliência dos neurônios
é memória e criptografia de espelhos/
A história pendurada no açougue
de onde alguém me acena
com um lenço
carregado de cicatrizes.


Anisio G Homem

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