Tem um homem ali, sentado, o jeito de sentar-se na cadeira de
balanço é inquieto. Ele dobra as mangas das camisas até os cotovelos. Ele lê um
livro em entrecortados espaços. Para, reflete, acende o cigarro de palha, olha
pela janela, volta a ler. A cadeira range e ele não se desliga _ nem da vida,
nem do livro. A mão que segura o livro é morena e áspera. No dedo anular
esquerdo um anel cobre a aliança de casamento. Ele pode passar a manhã inteira
mergulhando seu olhar nas palavras. A cena lembra a sua maturidade, quase
velhice. Ele nunca se tornaria um ancião curvado. Morreu de amor quando a sua
amada imortal _ minha mãe _ morreu. Definhou, foi ao encontro dela na montanha
das caçadas eternas _ o paraíso indígena. Aquilo que lhe segredaram os meninos
da tribo que foram seus vizinhos em São Jerônimo da Serra. Ele sempre me
contava que os índios acreditavam que o paraíso era uma montanha onde se caçava
eternamente.
Bárbara Lia _Paraísos de Pedra _ editora Penalux _ Página 104
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