domingo, 3 de novembro de 2013

Tem um homem ali, sentado, o jeito de sentar-se na cadeira de balanço é inquieto. Ele dobra as mangas das camisas até os cotovelos. Ele lê um livro em entrecortados espaços. Para, reflete, acende o cigarro de palha, olha pela janela, volta a ler. A cadeira range e ele não se desliga _ nem da vida, nem do livro. A mão que segura o livro é morena e áspera. No dedo anular esquerdo um anel cobre a aliança de casamento. Ele pode passar a manhã inteira mergulhando seu olhar nas palavras. A cena lembra a sua maturidade, quase velhice. Ele nunca se tornaria um ancião curvado. Morreu de amor quando a sua amada imortal _ minha mãe _ morreu. Definhou, foi ao encontro dela na montanha das caçadas eternas _ o paraíso indígena. Aquilo que lhe segredaram os meninos da tribo que foram seus vizinhos em São Jerônimo da Serra. Ele sempre me contava que os índios acreditavam que o paraíso era uma montanha onde se caçava eternamente.


Bárbara Lia _Paraísos de Pedra _ editora Penalux _ Página 104

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