volto para o dia de ontem, em que abro a porta e
entro. fim de tarde, não bate sol, o apartamento é um freezer. acendo a luz.
largo o saco de pães na mesa de toalha florida. dispo-me da japona. passo a mão
no excesso de água da cabeça. enxugo na calça. a xícara. abro a garrafa térmica
e me sirvo. arranco um pedaço do papel toalha. assôo o nariz, estou gripado. o
corredor e o escuro quarto. olho a foto no porta-retrato: três anos de idade,
bermudinha preta, coxas grossas, joelhos engruvinhados, meias brancas, sapatos
tipo botinha ortopédica, camiseta azul escura por baixo do casaquinho de fio.
noutro, o meu aniversário de nove anos. todos nós sujos e suados de correr pela
chácara, terreno protegido por pinheiros. finais de tarde úmidos de sereno, a
pândega de quero-queros tristes dentro do rigoroso inverno. e as lavagens dos
porcos que a gente fazia com os restos que sobravam dos restaurantes do bairro.
nauseavam-me. gostava de olhar a geada pela manhã. eu não chorava. nada no
mundo era uma resposta, muito menos uma pergunta.
Luiz
Felipe Leprevost
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