I
No Mar uma mão flutua ligeira e agarra
uma última versão da vida sobre as águas.
É Storni ou Woolf? – reflito, interrogo.
A mão é um convite, um sinal, um canto de uma sereia metamórfica e
ancestral.
O Mar é uma imagem obsessiva de quem só percorreu lagos e pequenos rios
brotando em cerrados e chapadas.
O Mar é uma transição que adio – até não sei quando (quandos?).
O Mar é a esperança além – algo imenso e sobrecarregado de vidas e
mortes sem túmulos.
Não findarei o ato com o coração
vestido de terra e concreto – é por isso que resisto.
Prorrogo o tempo do meu juízo.
No Mar proponho uma forma de entrega – um destino profundo e íntimo
junto às sobras de uma civilização ocultada por plânctons e seres parasitários.
No Mar pesco a mão que significo.
II
Você recorda do Monstro de 1991 – aquele que
arrastou suas miúdas pernas para o fundo de um tanque lamacento?
Era seu criador.
III
Era a última gota
como se fosse a última nota de uma
canção ruidosa que ansiamos por silenciar.
Era a última gota
como se fosse o último tempo
de um serviço forçado.
Era a última gota
como se fosse a última dose
de um antídoto acre.
Era a última gota
e para não findar o ato
houve um congelamento.
Lisa Alves - A Fábula de um Mundo Real - lisaallves.blogspot.com
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