domingo, 26 de janeiro de 2014

Tirocínios Líguidos para Elisa


I

No Mar uma mão flutua ligeira e agarra
uma última versão da vida sobre as águas.
É Storni ou Woolf? – reflito, interrogo.

A mão é um convite, um sinal, um canto de uma sereia metamórfica e ancestral.

O Mar é uma imagem obsessiva de quem só percorreu lagos e pequenos rios brotando em cerrados e chapadas.
O Mar é uma transição que adio – até não sei quando (quandos?).
O Mar é a esperança além – algo imenso e sobrecarregado de vidas e mortes sem túmulos.
Não findarei o ato com o coração
vestido de terra e concreto – é por isso que resisto.
Prorrogo o tempo do meu juízo.

No Mar proponho uma forma de entrega – um destino profundo e íntimo junto às sobras de uma civilização ocultada por plânctons e seres parasitários.

No Mar pesco a mão que significo.

II

Você recorda do Monstro de 1991 – aquele que

arrastou suas miúdas pernas para o fundo de um tanque lamacento?

Era seu criador.

III

Era a última gota

como se fosse a última nota de uma

canção ruidosa que ansiamos por silenciar.

Era a última gota

como se fosse o último tempo

de um serviço forçado.

Era a última gota

como se fosse a última dose

de um antídoto acre.

Era a última gota

e para não findar o ato

houve um congelamento.

Lisa Alves - A Fábula de um Mundo Real - lisaallves.blogspot.com

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