sábado, 22 de agosto de 2015

O ano da morte de Ricardo Reis


Não cante o desprezo dos deuses, Ricardo
Não colha as flores mortas ao lado do Tejo
Os fardos humanos são apenas isto – Fardos
E os beijos sensuais são apenas isto – Beijos
Sou toda verão na alcova, acesa, à tua espera
Estonteante mulher que levas a ver as flores
Enquanto os pássaros trinam alto – Neera!
Nada nos falta, mas, em ti brotam mil dores
Quando a morte te buscar, aquela que conheces
Voltarei aos prados colhendo as flores vivas
Tocarei a pele do planeta murmurando preces
Banquetearei na relva, as flores como convivas
Dói, Ricardo, saber que todos os campos serão meus
Ainda orvalhados de lágrimas dos belos olhos teus
Bárbara Lia

Respirar - página 75

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