domingo, 9 de agosto de 2015

o poeta

                                                    
                              escrevo para tornar-me eterno
                       ao mesmo tempo em que me entrego à morte
                           
                                   eu, aos 15-16 anos


é outono – sem lamento – na cabeça do poeta.
folhas caem esturricadas de geada.
o caderno de estudante não me avexa mais.
vou jogá-lo fora mesmo assim. já é tempo de novo.

engraçado quando acentuava
compulsivamente
o pronome tu.
talvez que uma faca em você,
flecha atravessado no assombro de viver. sei lá.

aprendi outros nomes e jeitos de enunciar,
novas oitavas:
imensidade
densidão
arrebóis.

densifloro,
soube com os girassóis:
não há beleza alguma
em estar morto.

a glória não passa de uma fotografia
ou de um poema

 Rodrigo Madeira

(sol sem pálpebras, 2007)                           

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