domingo, 13 de setembro de 2015

aylan kurdi



não morreu a história.

numa praia pedregosa
de halicarnasso, terra de heródoto,
não morreu a história.

melhor seria
que um fósforo de hegel, riscado
nos faróis e cátedras
de quantas teleologias,
não apagasse
ao sopro desta tempestade.

o mar é tautológico,
argos que roesse os infinitos
ilíacos de homero, baralhados e cuspidos
feito búzios.

um cão dormirá talvez
naquelas mesmas praias e pedras,
desmemoriado.
um cão,
um turista,
uma criança viva.  (dormiriam aliás,
                         tranquilos,
                         à ilharga
                         de qualquer outra praia.)

não morreu a história.
numa praia pedregosa
de halicarnasso, terra de heródoto.


***

abdullah kurdi

                             
                                     (o mar é o mesmo, mas)


a concha espraiada
guarda na concavidade
o grito do pai



Rodrigo Madeira

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