quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Jussara Salazar

A memória, esse arquivo que parece que só olhar pra trás, farejando, desdobrando lençóis velhos, abrindo e fechando portas. Essa fotografia do Eustáquio Neves reacende os cheiros de minha infância na casa do Arruda, talvez pela expressão dos olhos, certa melancolia no olhar distante, tão parecidos com o deles, os meus da banda africana. A cozinha recendia a colorau e goiaba, a casa mal-assombrada se enchia de velhos ao fim da tarde no alpendre de minha avó juremeira. Ao mesmo tempo lembro de uma ocasião em arcoverde em que caminhei pela avenida da cidade, aquela do cine bandeirantes, de mãos dadas com meu avô da banda do sertão. Chegamos ao seu armazém, onde que ele vendia secos e molhados e eu fiquei atrás do balcão sentindo o cheiro do paio, dos cereais e da farinha, que era pesada e conferida com as cuias de lata. As duas memórias me trazem a esse futuro. Eu não tenho dúvida que essa foto cheira à goiaba, colorau e paio e tempo.




Nenhum comentário: