quinta-feira, 1 de outubro de 2015

"Onde pus a esperança, as rosas / Murcharam logo." Álvaro de Campos

A literatura não é autoajuda, pilulas de otimismo ou lições de auto-superação. A literatura, como ela se delineou na modernidade, é a procura do estranhamento, da alteridade, da exotopia (olhar-se a si mesmo como que de fora). Isso não sgnifica que a literatura não possa ajudar, mas ajudar num sentido mais amplo, complexo, dialético. Parafraseando a linguagem dos místicos, se para atingir a iluminação é preciso antes esvaziar-se das ilusões (o véu de Maya), a literatura é aquela que produz o vazio. Aí, neste vazio, neste oco, neste nadir, neste zinzum (pra falar como a cabala) pode quem sabe brotar a luz. Me lembro uma vez que eu tinha acho que 18 anos e lia o primeiro capítulo de "Os anos", da Virginia Woolf. Eu estava sozinho em casa e era o final da tarde. Aí, depois de terminado o capítulo (que nunca mais reli, nem me lembro do que se tratava), eu tive uma epifania: tudo ficou iluminado e as arestas das coisas se diluiram. É isso que busco, deseperadamente, quando escrevo: abrir as portas da percepção, com o psicoativo mais potente que já se inventou: uma mente despertada pela arte.


Otto Leopoldo Winck

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