sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

após vinte e cinco anos de bebedeira, conheci botecos das mais variadas estirpes: desde aqueles "cults" que, na realidade, se fingem de botecos e nos quais as pessoas fingem que bebem, passando por bares de faculdade, até o mais famigerado "cospe grosso". por conseguinte, conheci bêbados das espécies mais variadas, figuras arquetípicas, e sempre, de um jeito ou de outro, me dei bem com todos eles. aprendi muito sobre a condição humana, nos botecos da vida, ouvi muitas histórias: cômicas, dramáticas, trágicas e afins (todo bebum tem um certo lirismo na maneira como enxerga o mundo, uma perspectiva poética única - no sentido forte do termo). o que não suporto nessa coisa toda é o ex-bêbado - não me refiro àquele sujeito que parou de beber porque quis e resolveu fazer outra coisa da vida, que ainda vai ao bar e bate papo e se diverte com água tônica - tenho cá pra mim que bêbados são criaturas solitárias com grande dificuldade de trato social e timidez e que, no fundo, o álcool serve como um pretexto para anestesiar essas características e lubrificar as relações, por isso o boteco é uma irmandade -, falo daquele cara que deixou de ir ao bar e deixou de beber por razões externas, e criou um recalque terrível com isso, de maneira que acaba apontando com o dedo da frustração e condenando, o universo do qual, ele gostaria muito de fazer parte. mais ou menos como o mito da caverna de platão, o bêbado platônico descobriu a verdade e não se contenta em a guardar para si, quer a todo custo enfiá-la goela abaixo de todos, num curioso exercício de tentar se edificar às custas alheias. diante de criaturas assim, resigno-me, persigno-me e, num brinde da mais alta erudição, digo: "jesus disse: tomai e bebei".

William Teca

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