quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Um dia as estrelas todas do céu caíram

Um dia as estrelas todas do céu caíram
e eu me vi perdido numa praia que se confundia com a noite.
A noite era tão funda que eu cheguei a esquecer o cor dos teus olhos.
A ondas molhavam meus pés
e as vagas no horizonte desenhavam um naufrágio.
Tudo era novo, embora conhecido há milênios.
Se o viver era precário, sabê-lo já não era tão trágico.
A ninfa da melancolia, derramando sua eterna ânfora de mágoas,
me fitava do mundo do corredor. Então chorei.
E de meus olhos nasceram rios, e desse rios oceanos.
De cada oceano, no continente que surgia, brotava uma nova civilização.
No entanto, eu continuei perdido
porque agora já não lembrava sequer do contorno do teu rosto.
Ai, quisera retornar à rua de minha infância
e bater bola com os colegas do bairro. Mas todos estão velhos
e um inclusive já morreu.
É isto a vida? -- um dia me perguntei.
A vida mesma se encarregou de me responder
e se mostrar alucinatoriamente múltipla.
A noite é dura. Perder teu vestígio também.
Mas agora trago uma estrela no bolso
que me ilumina os olhos e me faz crer
que ao fim da noite te reencontrarei intacta.
Tudo é novo. E antigo.
Mas já não é trágico.
Caminho por uma praia
que vai terminar na aurora.
Otto Leopoldo Winck

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