domingo, 20 de dezembro de 2015

Ensaio de abertura de um romance.



Por exemplo: chove lá fora. Eu ouço o barulho da chuva e ele me dói aqui dentro como uma lembrança. Lembrança de quê? Não sei. Só sei que amarga. Quando a felicidade acaba, toda lembrança é amarga, sobretudo as lembranças dos momentos felizes. Momentos felizes? Hoje os desprezo. Quisera ter sofrido mais, ter odiado mais, ter me enojado mais. A vida definitivamente não é para os fracos. E eu fui fraco. Muito fraco. Por isso começo meu livro com esta confissão: fui fraco, porra. Agora não adianta nada reclamar da chuva, da vida, da memória involuntária. Proust foi um grande farsante. E um grande escritor. Eu sou apenas um grande farsante. Por isso começo minha história falando da chuva.



 Otto Leopoldo Winck

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