sábado, 12 de março de 2016

Chuva branda

Chuva branda
escorre na vidraça
e o enfado suave
desse movimento
me lembra mulher
adormecida clara linda
que também se move
querendo retornar
do abismo
do sono intocável,
do silêncio da noite
que ainda faz
no quarto imenso.
Da rua chegam
os avisos tímidos
da roxa cinza chumbo
aurora de figuras fugidias.
Corpo de mulher
nem santa nem devassa,
apenas comum,
seminua imagem
desvanecida se apagando
junto às últimas luzes.
Em outra manhã
de outro mundo
minha poesia acorda
amarrotada feito lençol
e transforma em luz
pássaros que abandonam
seus cabelos
e descobrem o sol.
*
André Giusti, 1991

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