segunda-feira, 28 de março de 2016

TANQUE DA CHÁCARA


( Lauro Volaco)

A água sempre exerceu uma forte atração em mim. Assim, rios, riachos, mar, lagoas, piscina e outras tantas formas que a contém me fascinam. Acordar e ver uma névoa fina sobre a água me transporta a situações de muita paz e harmonia. Mas o que eu gosto mesmo é do contato físico com ela, que me envolva, me embrulhe, me toque, me acaricie. Pescar bem cedinho, num dia mais frio e com a água bem quente fazendo o contraste e formando aquele vapor, faz com que a vontade de pescar vire secundária, para dar lugar ao prazer daquela imagem.
Mas vamos falar de um filete de água que corre nos fundos de nossa chácara, com água absolutamente pura que nasce bem próxima de onde foi construído o nosso tanque, menos de trezentos metros do “olho de água”. No início da minha infância, nem íamos muito até este filete de água, pois não tinha a menor graça, não nos proporcionava nenhum tipo de entretenimento. Por outro lado, tinha o tanque do Fanchin, que era um lugar onde nós éramos atraídos mais que um imã num pedaço de ferro. Meu pai e meu tio Rubem, percebendo que ali havia um potencial de aproveitamento e divertimento, resolveram construir um pequeno tanque. Melhor dizendo: um pequeníssimo tanque. Não seria tão bom quanto ter uma piscina, mas seria muito melhor que nada. Além do mais, nos manteria em nosso território. O lugar escolhido foi estratégico, pois precisou fazer pouca remoção de terra praticamente sem descaracterizar o terreno, todo cheio de árvores, samambaias e arbustos. Além do mais, quando uma construção como estas é feita com pá, enxada, carrinho de mão e baldes para transportar os materiais removidos, a canseira e o trabalho são enormes. Outro fator levado em consideração é que no local escolhido não havia rochas, o que seria um complicador para a construção. Uma coisa que foi muito sábia, foi termos participado de todo o trabalho, pois ele passou a ter um valor inestimável para nós. Ficamos sabendo muito bem o que é construir alguma coisa, mesmo que pequena. Depois, cuidávamos daquele tanque, com o carinho de um pai com seu filho. Foi projetado para que a água pudesse sempre estar limpa, mesmo durante o uso enquanto nadávamos. Para isto foi feito uma barragem de contenção, que tinha na parte bem inferior e no meio do tanque, um furo com um tampão de madeira, para que ele pudesse ser esgotado e feito uma limpeza fina de folhas, galhos e mesmo barro. Na parte superior desta pequena barragem, ficava o vertedouro, para que a água não transbordasse de forma desuniforme e provocasse erosão. O fundo foi revestido com lajotas de pedra e também uma das laterais do tanque. A outra parede foi mantida naturalmente de terra, pois ela era muito compacta e foi deixada sem revestir visando reduzir custos (“fazer mais com menos”. De tempos em tempos, drenávamos toda a água e fazíamos uma limpeza geral, deixando aquele nosso tanque limpíssimo, para receber o novo volume de água, que não tinha custo algum. O que tinha de ruim é que demorava vários dias até que enchesse novamente, pois o volume de água era muito pequeno. A água era muito gelada, pois entre a nascente e o tanque, não recebia calor do sol, de tanta vegetação que recobria todo este trecho do filete de água.
Aquele pequenino tanque era para nós, uma fonte inesgotável de prazer, pois podíamos reunir nossos amigos para grandes brincadeiras. Era tão pequeno, que para que pudéssemos saltar do barranco, precisava que ninguém estivesse na linha de salto, para evitar embutir um pescoço no ombro da vítima. Pequeno espaço, grandes divertimentos para uma criançada que podia brincar na água sabendo de sua qualidade e com mínimo risco.

Grandes e boas lembranças que meu pai e meu tio nos proporcionaram de forma tão simples.

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