sexta-feira, 25 de março de 2016

Círculo vicioso


Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume
- "Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
Que arde no azul, como uma eterna vela!"
Masa estrela, fitando a luz, com ciúme:
- "Pudesse eu copiar o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!"
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:
- "Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume!"
Mas o sol, inclinando a rútila capela:
- "Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
Enfara-me esta luz e desmedida umbela...
Por que não nasci eu um simples vaga-lume?"

Machado de Assis

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