Construo um navio com nuvens da infância
e meu sonho navega num céu de saudade.
O sol colhendo amoras no sítio da alvorada
um velho engenho recendente da garapa
jorrando da moenda de aroeira adocicada.
As batidas inocentes pelos clarões do céu
e as colinas de assa-peixes floreando paz.
As quaresmeiras roxas, os ipês frondosos
a sombria constância das estradas baldias
os capoeirões dos carrancudos cambarás.
O canto triste dos carros-de-boi cá dentro
do meu peito onde escuto bater a solidão
das porteiras dos apriscos de minha alma
de plantão no abismo da doce melancolia
que assiste o fazendeiro do meu coração.
Construo um navio com nuvens da infância
e meu sonho navega num céu de saudade.
Do murmúrio infantil das águas cristalinas
do crepúsculo nas calmarias do horizonte
por onde fluem os ribeirões da liberdade.
Afonso Estebanez
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