sábado, 2 de abril de 2011

MAIÊUTICA DO SONETO

O tenso cinzelar das letras sobre a alva,

Enevoada folha, imprime a tinta malva.

Na veia azul da mão, no veio da palavra

A mesma vida escorre, e pulsa, e javra.



Estrofe: silencio. E de novo a valva

Tomo, e o bisturi. Já sem nenhuma salva,

Rebento o hemistíquio, puxo o Verbo – avra

Kedabra! –, nasce e chora!... Eis a minha lavra.



Eis quando os ossos secos se ajuntam no chão*;

Eis quando a letra mata e faz se erguer do caos

O soneto em archote, ensangüentado em pranto,



E a palavra vivaz, afora deste, vibra

Em um corpo de luz, que é filho em cada fibra

Do maieuta poeta eviscerado e santo.





Igor Buys

13 de agosto



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*Alusão: Bíblia cristã, Ezequiel 13.7-14

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