O tenso cinzelar das letras sobre a alva,
Enevoada folha, imprime a tinta malva.
Na veia azul da mão, no veio da palavra
A mesma vida escorre, e pulsa, e javra.
Estrofe: silencio. E de novo a valva
Tomo, e o bisturi. Já sem nenhuma salva,
Rebento o hemistíquio, puxo o Verbo – avra
Kedabra! –, nasce e chora!... Eis a minha lavra.
Eis quando os ossos secos se ajuntam no chão*;
Eis quando a letra mata e faz se erguer do caos
O soneto em archote, ensangüentado em pranto,
E a palavra vivaz, afora deste, vibra
Em um corpo de luz, que é filho em cada fibra
Do maieuta poeta eviscerado e santo.
Igor Buys
13 de agosto
________
*Alusão: Bíblia cristã, Ezequiel 13.7-14
Nenhum comentário:
Postar um comentário