domingo, 3 de abril de 2011

DERIVA DOS CONTINENTES

Uma loura lactante,

mãe há poucos meses,

biquíni de onça,

perdida

em si mesma

e a procura de Deus;

uma mulata,

vestida de prata

balé e samba;

um homem vestido

de silêncios.



Uma cena por demais

pitoresca

para ser pintada,

exceto por Lautrec

mas numa tela cubista

e carioca;

um beijo

de três bocas,

uma boca de quimera,

de pantera negra e aur-

ora pintada,

com a cidade roxa

e amarela

ao fundo, diluindo-se

na sarjeta incendiada

de infernos que piscam

em fornos vermelhos,

azuis e verdes de além.



Duas, nada menos que

duas, nuas

como rios que se encontr-

am negrossolimônicos

transbrasileiros

e dasaguam em barro-

-carne lua, para ao barro

não retornarem jamais

exceto como grito

exceto como cimitarra

contra o peito do tempo

que todos querem morto-

-e-ressurreto



dionisiano

para não perder do ag-

ora o seu sempre,

a sua alma e-

terna e ensaguentada.



E enfim, a quase impossível,

a quase não vista

ternura e suas pétalas róseas,

seus pés delicados,

floresce entre os náufragos,

os que se sabem a deriva

na deriva dos continentes,

com seus risos frouxos,

com seus dedos enlaçados,

numa terça sem termo,

num quarto sem quartos,

num Rio sem rumo,

que volve a oceano.



Igor Buys

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