Sobre o assoalho da boate
em xadrez,
mesas e cadeiras
de alvenaria e granito
são como Peões
e Torres imóveis,
as meninas
são como Rainhas
e deslizam,
varrem todo o tabuleiro.
Como um Rei,
o cliente pouco se move.
Está vulnerável e guardado,
esgueira-se, não olha nos olhos.
As Rainhas se chamam amigas
ainda que deveras o não sejam,
e afetam não ser bailarinas,
ainda que, de fato, o sejam.
Ninguém deve dançar, senão elas,
que estão seminuas e belas
sob a luz negra de peças alvas.
À porta, existem dois Cavalos-
-Leões, ferozes, contidos.
Por trás da tela preta,
como um quadro de Rothko
suspenso entre luzes rubras,
espiam os Bispos: juízes
de comportamento e etiqueta:
a que beija na boca, é multada;
a que se deixa abusar no salão,
multada é, e ficará mal vista.
Preto e branco,
branco e preto:
tudo ali é um jogo,
razão e atenção
são demandadas.
— Quer sair comigo, querido?
— Obrigado, mas queria conhecer a loira.
Pode chamá-la?
Licor Amarula e dropes Tic-Tac.
Cigarro importado e tequila.
Neste xadrez ninguém ganha,
ninguém perde, mas todos roubam.
Sair com a mais bela,
— ou levá-la ao quarto,
todos podem, mas poucos,
muito poucos,
irão realmente tê-la,
que isso demanda algum carinho,
alguma estampa,
e saber segurá-la como
a um florete:
se afrouxar, ela voa,
se apertar, ela morre.
Igor Buys
Nenhum comentário:
Postar um comentário