quinta-feira, 21 de abril de 2011

XADREZ MARGINAL (XADREZ COM AMARULA)

Sobre o assoalho da boate

em xadrez,

mesas e cadeiras

de alvenaria e granito

são como Peões

e Torres imóveis,

as meninas

são como Rainhas

e deslizam,

varrem todo o tabuleiro.



Como um Rei,

o cliente pouco se move.

Está vulnerável e guardado,

esgueira-se, não olha nos olhos.



As Rainhas se chamam amigas

ainda que deveras o não sejam,

e afetam não ser bailarinas,

ainda que, de fato, o sejam.

Ninguém deve dançar, senão elas,

que estão seminuas e belas

sob a luz negra de peças alvas.



À porta, existem dois Cavalos-

-Leões, ferozes, contidos.



Por trás da tela preta,

como um quadro de Rothko

suspenso entre luzes rubras,

espiam os Bispos: juízes

de comportamento e etiqueta:

a que beija na boca, é multada;

a que se deixa abusar no salão,

multada é, e ficará mal vista.



Preto e branco,

branco e preto:

tudo ali é um jogo,

razão e atenção

são demandadas.

— Quer sair comigo, querido?

— Obrigado, mas queria conhecer a loira.

Pode chamá-la?



Licor Amarula e dropes Tic-Tac.

Cigarro importado e tequila.

Neste xadrez ninguém ganha,

ninguém perde, mas todos roubam.



Sair com a mais bela,

— ou levá-la ao quarto,

todos podem, mas poucos,

muito poucos,

irão realmente tê-la,

que isso demanda algum carinho,

alguma estampa,

e saber segurá-la como

a um florete:

se afrouxar, ela voa,

se apertar, ela morre.





Igor Buys

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