dentro de cada parreira, em cada uva, no mosto,
dentro de cada garrafa de vinho sempre há a reza de uma mulher. no martelo que
um homem bate, dentro do pulso do martelo, a reza de uma mulher. tem uma reza
na ferradura, na pata do cavalo quicando no chão. catávamos minhocas na lama e
as colocávamos em latas, muitas vezes, num gesto sádico, arrebentando seus
corpos. há quem saiba ler a lição da terra no apodrecimento do fruto na
fruteira. uma lógica selvagem. o céu que dá de beber a terra para fazê-la
fértil. as correntezas dos mares os marinheiros conhecem. as correntezas da
terra são tão complexas quanto. o oxigênio das flores. respiro e o lugar em que
piso é até onde vim. pisco, esfrego o rosto como acordasse de um enterro, os
olhos estão tampados. a cabeça pesa, preciso espremê-la como a uma esponja com
água suja retida. o coração é um vaso rústico arrebentado pelas raízes que não
se contentam com o espaço restrito. e aqui está, redondo rosto, róseas
bochechas, minha mãe a
nascemos de novo dos nossos filhos quando nossos
filhos nascem.
olhões amplos, claros. e olheiras que igualmente
definiram minhas feições. o leve tom arroxeado ao redor dos olhos verdes e o
jeito sempre poético de
descendemos de rezas.
Luiz Felipe Leprevost
Nenhum comentário:
Postar um comentário