quarta-feira, 20 de novembro de 2013

dentro de cada parreira, em cada uva, no mosto, dentro de cada garrafa de vinho sempre há a reza de uma mulher. no martelo que um homem bate, dentro do pulso do martelo, a reza de uma mulher. tem uma reza na ferradura, na pata do cavalo quicando no chão. catávamos minhocas na lama e as colocávamos em latas, muitas vezes, num gesto sádico, arrebentando seus corpos. há quem saiba ler a lição da terra no apodrecimento do fruto na fruteira. uma lógica selvagem. o céu que dá de beber a terra para fazê-la fértil. as correntezas dos mares os marinheiros conhecem. as correntezas da terra são tão complexas quanto. o oxigênio das flores. respiro e o lugar em que piso é até onde vim. pisco, esfrego o rosto como acordasse de um enterro, os olhos estão tampados. a cabeça pesa, preciso espremê-la como a uma esponja com água suja retida. o coração é um vaso rústico arrebentado pelas raízes que não se contentam com o espaço restrito. e aqui está, redondo rosto, róseas bochechas, minha mãe a
nascemos de novo dos nossos filhos quando nossos filhos nascem.
olhões amplos, claros. e olheiras que igualmente definiram minhas feições. o leve tom arroxeado ao redor dos olhos verdes e o jeito sempre poético de
descendemos de rezas.
Luiz Felipe Leprevost




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